A verdade é libertadora. E dói. Especialmente com aquilo que a gente gosta e ama. Eu confesso: a minha esperança de que algo mude para algo muito melhor no futebol campineiro diminuiu a cada dia. E aqui não há relação com dinheiro, poderio econômico ou outro fator semelhante.
Os rebaixamentos, a participação em campeonatos de menor dimensão ou a escassez de craques tem relação com algo relacionado a nossa cidade. Sim. As decepções com Ponte Preta e Guarani tem ligação com a mediocridade reinante na Capital das Andorinhas. Sim, uma cidade de 1,2 milhão não deve ser ignorada. Mas pegue e pense: quando foi a última vez que Campinas na área política, econômica ou até de sociedade mostrou algo diferenciado, capaz de influenciar o país? Senta na cadeira porque vai demorar para encontrar a resposta.
Nas décadas de 1970 e 1980, as duas equipes refletiam o que vivíamos no cotidiano. Francisco Amaral, antes de ser prefeito, foi um soldado da linha de frente contra a ditadura. O então arquiteto Antonio da Costa Santos, colocou a mão na massa e ajudou a erguer centenas de casas na Vila Ypê. Apesar de ter vivido por 38 anos, Antonio Carlos Corsini deixou seu nome marcado na Unicamp e na medicina. E hoje? O que sobra? Quem influencia com tamanha força capaz de fazer a diferença? Poucos.
O futebol segue a mesma trilha. Se a Ponte Preta amedrontou os gigantes do Brasil é porque teve pessoas como Edson Aggio, Peri Chaib, Armando Martins de Oliveira. No Guarani, homens como Leonel Martins de Oliveira, Michel Abib e Ricardo Chuffi foram responsáveis em transformar a conquista do título em 1978 em algo palpável e real. E na atualidade?
Não quero diminuir o mérito de ninguém, mas não vejo no horizonte a esperança de ver algum time de Campinas na primeira divisão nacional. Assim como não vejo, por exemplo, Dário Saadi virar senador ou até ministro de um governo de centro direita. (Detalhe: pessoalmente, gosto e aprecio a pessoa de Dário Saadi).
Repito: o problema não é de dinheiro. Resumo em uma palavra: recursos humanos. A Ponte Preta terá eleições em novembro. A oposição tem quadros que merecem respeito e a situação não se pode ignorar o trabalho feito por Marco Eberlin para resgatar a infraestrutura pontepretana. Mas todos tem limites. São humanos e não vejo em qualquer um deles potencial para levar a Macaca a voos mais altos. De qualquer lado.
No Guarani, três chapas devem se apresentar. Pois eu digo: se juntar todos não dá uma. Arquivos ou telas de Power Point não podem esconder a mediocridade e a limitação de todos. Roberto Graziano? Vendem como Ferrari, mas infelizmente é, no máximo, um Uno Mille. Triste. Mas é a real.
Não, não esqueço nós jornalistas. Precisamos melhorar. Muito.
A cidade em que nasci e vivo minha vida profissional vive em um pântano. Parece fadado a ser tragado pela lama da ausência de criatividade e a ficar envolvida para sempre em uma espiral em que imperam falta de interlocução e diálogo, incapacidade de análise e falta de inventividade. Foi isso que transformou Campinas em algo revolucionário no passado. Hoje, somos um pálido vestigio disso. Como melhorar? Uma palavra resume: milagre. Que pena.
(Elias Aredes Junior)