Que Brigatti acrescente e faça história na Ponte Preta. E que não seja jogado aos leões

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Durante muitos anos cresci com o conceito de que a Ponte Preta só seria gigante a partir do instante que fosse entregue aos pontepretanos. Que forasteiros não triunfariam porque não conhecem o espirito e a alma de quem frequenta as arquibancadas do estádio Moisés Lucarelli.

Ou seja, ao anunciar a contratação de João Brigatti como auxiliar técnico todos os problemas estão resolvidos. Um pontepretano nato, de coração, fanático pelo clube vai auxiliar Felipe Moreira, outro pontepretano, a buscar as vitórias e títulos que todos almejam. Não, não é assim. Ficamos com certezas e uma montanha de dúvidas .

Senão vejamos: nunca o futebol do clube esteve tão repleto de gente umbilicalmente ligada ao história da agremiação. Um dos vices presidentes e que participa das decisões do futebol, Giovanni Di Marzio, era frequentador das arquibancadas. Viajava em quase todos os jogos sediados longe de Campinas. Cansei de ver seu rosto ser focalizado pelas emissoras de televisão após cada gol pontepretano.

O gerente de futebol, Gustavo Bueno, é filho do maior jogador da história da Ponte Preta, Oscar Salles Bueno Filho, o Dicá. O novo treinador, Felipe Moreira, é outro forjado com o símbolo da Macaca em sua casa, pois seu pai, Marco Aurélio Moreira, foi técnico da Ponte Preta e armador no time vice-campeão paulista em 1977. O ocupante anterior do cargo, Eduardo Baptista, é filho de Nelsinho Baptista, lateral na equipe treinada por Cilinho em 1970. Ouso dizer: desde quando o grupo político comandado por Sérgio Carnielli assumiu o poder, em 1997, nunca a estrutura esteve tão lotada de gente “da casa”. Apesar disso, o litigio com a torcida é latente. Há desconfiança e decepção. Esperança no chão para 2017. O que acontece?

São diversos fatores, um quebra cabeça designado para desvendar só aos detentores de um espírito crítico e capacidade de análise. Assim como Brigatti, todos estes profissionais desembarcaram no Majestoso dotados de credibilidade e esperança. Com o passar do tempo, seus métodos de trabalho foram colocados em prática. Derrotas foram registradas e neste estágio é preciso ter esperteza suficiente para blindar tais patrimônios intelectuais. Ou seja, tomar a frente do processo, dar explicações e preservá-los de um desgaste junto a opinião pública e torcida.

Aconteceu o contrário. Em 2016, Gustavo Bueno deu uma série de entrevistas para explicar seus erros e acertos, Felipe Moreira ficou solitário para justificar o aproveitamento de apenas 36,6% dos pontos disputados e Eduardo Baptista, apesar dos seus equívocos, feitos e acertos, sempre colocou a cara para bater. Para proteger estas pessoas?  Ninguém.

Exemplo prático: em 38 rodadas de Campeonato Brasileiro, se registramos uma ou duas aparições de Sérgio Carnielli ou de Vanderlei Pereira foi um exagero. Nomeado pelo organograma da diretoria como vice-presidente de futebol, Hélio Kazuo também pouco apareceu.  Explicações, defesa da metodologia de trabalho e transmissão de confiança aos profissionais não se faz apenas em reuniões a portas fechadas. É algo que se faz diariamente, com conversas até em off com os jornalistas que cobrem o clube, exposições de planos por intermédio de declarações ao site oficial ou até a utilização de redes sociais. Alexandre Kalil não gostava de contato com a imprensa? Utilizava o twitter.

Não quer perguntas de jornalistas? Eurico Miranda é adepto desta metodologia condenável, mas encontrava um jeito de falar. Quem cobre o Vasco da Gama sabe perfeitamente o pensamento do presidente. Por isso que apesar das críticas Jorginho ficou da primeira a última rodada da Série B? Você pode argumentar que Eduardo Baptista ficou quase até o final do Brasileirão na Ponte Preta? Sim, mas conte as vezes que Eurico Miranda surgiu para defender o trabalho de Jorginho e as oportunidades em que o presidente executivo, o vice de futebol e o presidente de honra apareceram para fazer o mesmo e chegará a conclusão de que algo está errado.

A Ponte Preta vive um instante estranho: nunca a torcida citou tanto o nome de seus dirigentes e nunca eles foram tão mudos e escondidos das luzes da ribalta. Eles não sabem mas com isso  ajudam e muito a destruírem quem tenta formatar um trabalho pela Macaca e que no fundo apenas aplica as diretrizes definidas nas reuniões de gabinete.

João Brigatti é excelente profissional. Ótimo para fazer estabelecer bom relacionamento entre o elenco. É apaixonado pela Ponte Preta. Só que todo esse patrimônio pode ir por água abaixo se ele não receber o respaldo da alta cúpula. E isto não se faz apenas com registro em carteira, pagamento de salário em dia e tapinha nas costas nas vitórias. Se faz com respaldo, declarações públicas de apoio e blindagem efetiva para que ele exerça seu trabalho. Fora disso, é flertar com crise permanente.

(análise feita por Elias Aredes Junior)