Querem continuar com o futebol. É hora de trocar a comemoração de um gol pelo silêncio. Sincero!

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Quero conversar com você torcedor.Quero dialogar com quem utilizava o transporte coletivo para assistir aos jogos na Arena Corinthians, Allianz Parque, Vila Belmiro, Brinco de Ouro, Moisés Lucarelli. Ou quem desembolsa um valor por uma assinatura de pay per view. Ou o torcedor puro e simples que coloca o seu rádio ou celular na cama para acompanhar as peripécias do seu emblema fincado no coração.

O amor por um clube é infinito. Indescritível pensar em gols decisivos, lances memoráveis, taças conquistadas com sangue, suor, lágrimas e sorrisos. O Futebol faz parte de nossas vidas.

Como ignorar?

Alguns que leem este artigo  apoiam a luta da Federação Paulista pelo retorno do futebol. Empregos em jogo. A roda da economia não pode parar. Tem que girar. Nem que para isso seja necessário apelar a Justiça. Propostas da Federação na mesa: numero de jogos determinados, intensificação de campanhas pelo uso de máscaras. Legal, né!? Para alguns, é licito que a Federação lute pelo retorno do futebol.

Vamos esquecer por um instante a luta da FPF. Jogue de lado as notas oficiais, informações, as atitudes de condolências…Apague da memória.

Responda: quanto vale uma vida? Não há como medir. Se for alguém próximo, esta avaliação fica sem parâmetro. Vamos perceber que um vírus transformou o nosso bem maior, a vida, em algo frágil, perene, sem destino.

A cada pessoa internada em um quarto de UTI (quando consegue!), existe uma mãe, pai, amigo, amiga, todos aflitos e submetidos ao julgamento de um vírus que já matou quase 280 mil brasileiros. É como se Barueri virasse uma cidade fantasma, sem ninguém. Não tem outro nome: tragédia.

Faço outra pergunta: quanto vale o gol do seu time? A resposta tem opções. Na atualidade do futebol paulista, para muitos torcedores e dirigentes, a busca pela produção de um gol nas Séries A1, A2, e A3 permite tudo. Inclusive minimizar a maior tragédia sanitária do Brasil em 100 anos.

Sou jornalista esportivo. Entre idas e vindas são 26 anos. É meu ofício. Atuo na cobertura de Ponte Preta e Guarani. Só que não viro as costas ao meu país. Minha alma sangra pelas famílias que perderam seus entes queridos. Mortes que, em muitos casos, poderia ser evitada, se não fosse a negligência e falta de coordenação do Governo Federal.

Querem porque querem que o espetáculo continue. Por principio, sou contra a continuidade do futebol no meio do caos.

Como não posso parar, trocarei a comemoração de qualquer gol por um minuto de silêncio. Real, sincero. Nada de alegria ou emoção. Não tem clima. É o mínimo que posso fazer. Se você ainda tem amor ao próximo faça igual. Asseguro: um dia o futebol vai lhe agradecer.

(Elias Aredes Junior)