Reflexões e pensamentos do dérbi do dia 29 de abril de 2012

0
1.465 views

Existem jogos que nunca acabam. O resultado é discutido a exaustão. Exemplo disso é o dérbi vencido pelo Guarani no dia 29 de abril de 2012 e que lhe deu a passagem as finais da competição, quando perdeu para o Santos. Hoje, pela perspectiva histórica, dá para dizer com segurança os fatores que produziram a vitória bugrina por 3 a 1 e o revés da Macaca. E o que produziu caminhos tão distintos entre as duas equipes após o jogo.

Um resultado é produzido não só nos 90 minutos e sim ao longo do campeonato. Individualmente, este jornalista acredita que a Ponte Preta era melhor. Tinha jogadores do quilate de Roger, Renato Cajá e até o armador Caio, capazes de em um único lance definir.

No entanto, a Macaca naquele campeonato pecou pela irregularidade. Terminou a fase inicial com 28 pontos e na oitava posição porque perdeu pontos em jogos que não estavam no roteiro, como a igualdade por 2 a 2 com o Oeste no Majestoso ou perder para Guaratinguetá ( 2 a 1), que acabou rebaixado. Mas irregularidade não quer dizer que você sempre viva em baixa. Nas quartas de final, um bom esquema tático montado por Gilson Kleina e uma tarde inspirada de Renato Cajá e Roger produziram a vitória por 3 a 2 em pleno Pacaembu e a classificação as semifinais.

O Guarani por sua vez, teve como marca a regularidade, um futebol que não encantava mas era eficiente. Um time cuja mistura era de veteranos como o volante Wellington Monteiro, Danilo Sacramento e Fabinho com jovens com potencial como Bruno Mendes. Terminou a fase classificatória com 36 pontos e na quarta colocação, o que possibilitou de disputar as quartas de final em seus dominios. Fez um jogo de alta intensidade, encurralou o Palmeiras e venceu.

Brinco de Ouro vira um tabuleiro de Xadrez

De certa forma, estas duas características estiveram presentes na semifinal. A Ponte Preta começou melhor, criou chances, ocupou os espaços e fez 1 a 0 com o armador Caio. Veio o segundo tempo e o contra-ataque pontepretano parecia infalível. Tanto que Roger entrou em condições, chutou forte e o goleiro Emerson e evitou aquele que seria o gol para sacramentar a classificação. Convenhamos: em um jogo equilibrado e com rivalidade, abrir 2 a 0 de vantagem é um caminho enorme percorrido.

Mas o Guarani aproveitou aquilo para aplicar aquilo que sabia fazer: usar a superação e a raça no gramado para superar o adversário.

Fez o primeiro com Fábio Bahia e a partir daí, na base do entusiasmo e da determinação, passou a ganhar a posse de bola, criou um volume de jogo forte e comandou o jogo por intermédio de Fabinho e Danilo Sacramento. Protagonista de uma história eternizada, Medina estava no lugar certo e na hora certa.

O lugar de cada um após o clássico histórico

Interessante é observar o destino de cada equipe depois daquele 29 de abril de 2012. O Guarani sagrou-se vice-campeão paulista, mas amargou rebaixamentos na Série B do Brasileirão e também no Campeonato Paulista. Está com um calendário deficiente, com Série A-2 e Série C do Campeonato Brasileiro. Teve três presidentes (Marcelo Mingone, Álvaro Negrão e Horley Senna) e uma briga política que parece não ter fim. Parece ter saboreado a vitória e parado no tempo.

Sem contar o comportamento de sua torcida, dividida entre a resignação, a revolta por um estado deplorável na infra-estrutura do clube ou por vezes uma alienação inexplicável diante do quadro caótico.

E a Ponte Preta? Sim, a derrota doeu, machucou e produziu sequelas. Mas o time seguiu em frente e evoluiu em muitas áreas.

Senão vejamos: nos últimos quatro anos, em três (2012, 2013 e 2015), a Alvinegra esteve inserida na divisão de elite do futebol brasileiro. No Campeonato Paulista, apenas no último ano deixou de participar das quartas de final. O que dizer então da campanha memorável na Copa Sul-Americana, cujo vice-campeonato proporcionou um gosto amargo ao torcedor por sentir que existia possibilidade de agarrar a taça? Como esquecer as 30 mil pessoas colocadas no Pacaembu? Inesquecível. Pergunto: se a Macaca chorasse eternamente a derrota em 2012 será que conseguiria tudo isso? Eu respondo: não!

Dá para sonhar com algo melhor?

Por incrível que pareça, tanto o cenário de um como de outro não é o ideal para quem vislumbra o futebol como produto e gerador de recursos e empregos. O melhor seria que os dois estivessem na divisão de elite do Paulista e do nacional (tarefa já cumprida pela Ponte Preta) e que estivessem nas posições de destaque. Ou seja, na disputa por títulos.

Dá para sonhar? Até que sim. Desde que a Ponte Preta introduza a modernidade de uma vez por todas na gestão do seu futebol, coloque a ambição na ordem do dia e que o Guarani em primeiro lugar admita o patamar que se encontra atualmente e posteriormente comece a caminhar no rumo do olimpo da bola.

Quando isso acontece, você pode ter certeza: clássicos como os da semifinal do Paulistão de 2012 se transformarão em rotina.

(análise feita por Elias Aredes Junior)

Ps: no dia 05 de agosto faremos uma reportagem sobre o principal dérbi do Século 20, vencido pela Ponte Preta no dia 05 de agosto de 1981 pelo placar de 3 a 2.