Soluções Mágicas são vendidas no futebol. Fórmulas prontas são agarradas como o remédio de todos os males. Ao efetivar Felipe Moreira como técnico da Ponte Preta, a atual diretoria abraçou a tese reinante no país de que os interinos se constituem em um caminho de redenção. Opção rentabilizada graças a escassez de valores acima da média no mercado e o impedimento salarial para uma equipe de médio porte como a Alvinegra.
Existem histórias e histórias. Ninguém percorre caminho similar para chegar ao olimpo. Ou purgatório no que depender da sua visão. Este é o entrave central da decisão tomada pela Ponte Preta: querer transmitir ao torcedor de que Felipe Moreira tem semelhanças com o atual técnico do Botafogo, Jair Ventura e do Flamengo, Zé Ricardo. “O que pesa na decisão pela oportunidade ao Felipe não é a questão financeira. Nós entendemos que o Felipe está pronto para iniciar um trabalho na Ponte Preta. Acho que o futebol brasileiro tem nos mostrado um novo cenário com relação a técnicos de futebol. Nós podemos citar o Jair no Botafogo, o Zé no Flamengo. Marcelo Cabo foi campeão no Atlético-GO, Daniel Paulista no Sport. E por que não a Ponte Preta dar uma oportunidade ao Felipe?”, disse o gerente de futebol Gustavo Bueno. Respeito a linha de raciocínio, mas considero um equívoco.
Felipe e Daniel: histórias próximas
Obtive informações de que o volante Wendel, por exemplo, é defensor ardoroso do trabalho de Felipe. Só que não falo de trabalho e sim de trajetória. De história construída capaz de dar bagagem. Mais: trabalho de auxiliar é um; de treinador é outro. Para sentar no banco de reservas, alguns fatores são preponderantes, como lastro e experiência.
Ao olhar a matéria de apresentação do novo treinador da Ponte Preta no site oficial da Macaca você fica sabendo que o novo comandante jogou na base da Ponte Preta, é filho do ex-meia pontepretano Marco Aurélio Moreira (assim como Jair Ventura é filho de Jairzinho), é auxiliar fixo desde o ano passado e tem um retrospecto de em 10 partidas à frente da Ponte – nove em 2015 e uma neste Paulistão, com três vitórias, cinco derrotas e dois empates: 36,6% de aproveitamento. Este é o currículo de Felipe Moreira para dirigir a Ponte Preta em 2017. Um time cuja torcida quer títulos. Quer fazer história. Talvez o único profissional disponível no mercado e cuja trajetória é próxima a de Felipe Moreira é de Daniel Paulista, atual técnico do Sport. Daniel Paulista atua no Leão da Ilha como auxiliar técnico há um ano e meio. Antes de assumir em definitivo, comandou a equipe uma vez neste período, contra o Vasco, ano passado, Revés do Leão por 2 a 1. Foi titular da equipe que sagrou-se campeã da Copa do Brasil de 2008 com o técnico Nelsinho Baptista e Eduardo Baptista como auxiliar.
Felipe Moreira não é Jair Ventura
Agora, vamos ao outro “clone” mais próximo, Jair Ventura, técnico do Botafogo. Excetuando-se uma breve interrupção de alguns meses, Ventura está na Estrela Solitária desde 2008. Há oito anos. Neste período, atuou como preparador físico, técnico da equipe sub-20, treinador interino e auxiliar permanente. Jair Ventura participou das comissões técnicas que conquistaram dois títulos cariocas, em 2010 e 2013.
Como técnico interino, Jair Ventura comandou o Alvinegro no Estadual de 2010, após o time sofrer uma goleada de 6 a 0 para o Vasco, resultado que culminou na demissão de Estevão Soares, e após a queda de René Simões, em julho do ano passado, após a desclassificação na Copa do Brasil. No total, o treinador esteve à frente do Botafogo por três partidas (contra Bahia, Náutico e Criciúma).
Guarde para você esta reflexão que vou lhe propor: por toda a experiência acumulada por oito anos, Jair Ventura não tinha um conhecimento profundo não só dos jogadores mas da estrutura do Botafogo? Não estreitou laços com funcionários e dirigentes, apoio fundamental para assumir o time durante o Campeonato Brasileiro? Neste contexto, cabe a pergunta: como posso comparar Felipe Moreira com Jair Ventura, que exerceu quatro funções diferentes no mesmo clube em um espaço de oito anos? Dá para cravar que Felipe Moreira tem o mesmo estágio de preparação e conhecimento que Jair Ventura? Refltia e guarde para si a resposta.
Felipe Moreira não é Zé Ricardo
E Zé Ricardo técnico do Flamengo? Não há termo de comparação. É uma distância como de Campinas a Manaus a história do comandante rubro-negro com o novo técnico da Ponte Preta. Vamos aos fatos: Zé Ricardo, 44 anos, foi jogador. Atuou como zagueiro do Olaria e do São Cristóvão. Deixou a carreira nos juniores e foi jogador de futsal até os 25 anos.
Sua história começou a mudar em 1998,quando o dirigente Anderson Barros lhe levou foi para o Flamengo para
treinar equipes de futsal. Deu o salto definitivo em 2005, quando assumiu o time mirim rubro-negro. Ao desligar-se em 2008, abraçou o desafio de treinar o Audax. Atendeu ao pedido da Gávea e voltou em voltou em 2012 para comandar o sub-15. Dois anos depois, o bom trabalhou lhe rendeu assumir em novembro de 2014 o sub-20, cujo auge foi a conquista da Copa São Paulo desde ano.
Sem contar sua atuação no banco de reservas, Zé Ricardo é professor da rede municipal de ensino, talvez a profissão que, apesar dos problemas salariais e de estruturais é o maior laboratório que um educador pode contar para conhecer as ciladas do relacionamento humano. Ao descrever tal perfil, o questionamento é inevitável: não seria um equívoco gigante comparar Felipe Moreira com um profissional de 18 anos de estrada, com experiência acumulada em diversas categorias e ainda educador na acepção da Palavra? Pois é.
Fazer o trabalho certo
Não digo que as chances de Felipe Moreira dar errado são totais. A proporção está em 50%\50%. Mas a diretoria da Ponte Preta faria um grande favor ao seu próprio treinador se deixasse de lado estas comparações sem nexo e sentido.
A saída consciente é trabalhar em cima de fatores reais que podem fazer Felipe Moreira ter uma gestão exitosa na Ponte Preta. É disso que vamos tratar em outro artigo nesta página.
(análise feita por Elias Aredes Junior)