Sobre Felipe Moreira na Ponte Preta e a comparação descabida com interinos exitosos no Brasil

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Atletico de Madrid's assistant coach German Burgos looks at a tactics board before the Group A Champions League soccer match between Atletico de Madrid and Juventus at the Vicente Calderon stadium in Madrid, Spain, Wednesday Oct. 1, 2014. (AP Photo/Andres Kudacki)

Soluções Mágicas são vendidas no futebol. Fórmulas prontas são agarradas como o remédio de todos os males. Ao efetivar Felipe Moreira como técnico da Ponte Preta, a atual diretoria abraçou a tese reinante no país de que os interinos se constituem em um caminho de redenção. Opção rentabilizada graças a escassez de valores acima da média no mercado e o impedimento salarial para uma equipe de médio porte como a Alvinegra.

Existem histórias e histórias. Ninguém percorre caminho similar para chegar ao olimpo. Ou purgatório no que depender da sua visão. Este é o entrave central da decisão tomada pela Ponte Preta: querer transmitir ao torcedor de que Felipe Moreira tem semelhanças com o atual técnico do Botafogo, Jair Ventura e do Flamengo, Zé Ricardo. “O que pesa na decisão pela oportunidade ao Felipe não é a questão financeira. Nós entendemos que o Felipe está pronto para iniciar um trabalho na Ponte Preta. Acho que o futebol brasileiro tem nos mostrado um novo cenário com relação a técnicos de futebol. Nós podemos citar o Jair no Botafogo, o Zé no Flamengo. Marcelo Cabo foi campeão no Atlético-GO, Daniel Paulista no Sport. E por que não a Ponte Preta dar uma oportunidade ao Felipe?”, disse o gerente de futebol Gustavo Bueno. Respeito a linha de raciocínio, mas considero um equívoco.

Felipe e Daniel: histórias próximas

Obtive informações de que o volante Wendel, por exemplo, é defensor ardoroso do trabalho de Felipe. Só que não falo de trabalho e sim de trajetória. De história construída capaz de dar bagagem. Mais: trabalho de auxiliar é um; de treinador é outro. Para sentar no banco de reservas, alguns fatores são preponderantes, como lastro e experiência.

Ao olhar a matéria de apresentação do novo treinador da Ponte Preta no site oficial da Macaca você fica sabendo que o novo comandante jogou na base da Ponte Preta, é filho do ex-meia pontepretano Marco Aurélio Moreira (assim como Jair Ventura é filho de Jairzinho), é auxiliar fixo desde o ano passado e tem um retrospecto de em 10 partidas à frente da Ponte – nove em 2015 e uma neste Paulistão, com três vitórias, cinco derrotas e dois empates: 36,6% de aproveitamento. Este é o currículo de Felipe Moreira para dirigir a Ponte Preta em 2017. Um time cuja torcida quer títulos. Quer fazer história. Talvez o único profissional disponível no mercado e cuja trajetória é próxima a de Felipe Moreira é de Daniel Paulista, atual técnico do Sport. Daniel Paulista atua no Leão da Ilha como auxiliar técnico há um ano e meio. Antes de assumir em definitivo, comandou a equipe uma vez neste período, contra o Vasco, ano passado, Revés do Leão por 2 a 1. Foi titular da equipe que sagrou-se campeã da Copa do Brasil de 2008 com o técnico Nelsinho Baptista e Eduardo Baptista como auxiliar.

Felipe Moreira não é Jair Ventura

Agora, vamos ao outro “clone” mais próximo, Jair Ventura, técnico do Botafogo. Excetuando-se uma breve interrupção de alguns meses, Ventura está na Estrela Solitária desde 2008. Há oito anos. Neste período, atuou como preparador físico, técnico da equipe sub-20, treinador interino e auxiliar permanente. Jair Ventura participou das comissões técnicas que conquistaram  dois títulos cariocas, em 2010 e 2013.

Jair Ventura está há oito anos no Botafogo. Nomeação como técnico foi encarada de modo natural
Jair Ventura está há oito anos no Botafogo. Nomeação como técnico foi encarada de modo natural

Como técnico interino, Jair Ventura comandou o Alvinegro no Estadual de 2010, após o time sofrer uma goleada de 6 a 0 para o Vasco, resultado que culminou na demissão de Estevão Soares, e após a queda de René Simões, em julho do ano passado, após a desclassificação na Copa do Brasil. No total, o treinador esteve à frente do Botafogo por três partidas (contra Bahia, Náutico e Criciúma).

Guarde para você esta reflexão que vou lhe propor: por toda a experiência acumulada por oito anos, Jair Ventura não tinha um conhecimento profundo não só dos jogadores mas da estrutura do Botafogo? Não estreitou laços com funcionários e dirigentes, apoio fundamental para assumir o time durante o Campeonato Brasileiro? Neste contexto, cabe a pergunta: como posso comparar Felipe Moreira com Jair Ventura, que exerceu quatro funções diferentes no mesmo clube em um espaço de oito anos? Dá para cravar que Felipe Moreira tem o mesmo estágio de preparação e conhecimento que Jair Ventura? Refltia e guarde para si a resposta.

Felipe Moreira não é Zé Ricardo

E Zé Ricardo técnico do Flamengo? Não há termo de comparação. É uma distância como de Campinas a Manaus a história do comandante rubro-negro com o novo técnico da Ponte Preta. Vamos aos fatos: Zé Ricardo, 44 anos, foi jogador. Atuou como zagueiro do Olaria e do São Cristóvão. Deixou a carreira nos juniores e foi jogador de futsal até os 25 anos.

Sua história começou a mudar em 1998,quando o dirigente Anderson Barros lhe levou foi para o Flamengo para

Depois de 18 anos de carreira como técnico em times profissionais e divisões de base Zé Ricardo assume o comando do Flamengo
Depois de 18 anos de carreira como técnico em times profissionais e divisões de base Zé Ricardo assume o comando do Flamengo

treinar equipes de futsal. Deu o salto definitivo em 2005, quando assumiu o time mirim rubro-negro. Ao desligar-se em 2008, abraçou o desafio de treinar o Audax. Atendeu ao pedido da Gávea e voltou em voltou em 2012  para comandar o sub-15. Dois anos depois, o bom trabalhou lhe rendeu assumir em novembro de 2014 o sub-20, cujo auge foi a conquista da Copa São Paulo desde ano.

Sem contar sua atuação no banco de reservas, Zé Ricardo é professor da rede municipal de ensino, talvez a profissão que, apesar dos problemas salariais e de estruturais é o maior laboratório que um educador pode contar para conhecer as ciladas do relacionamento humano. Ao descrever tal perfil, o questionamento é inevitável: não seria um equívoco gigante comparar Felipe Moreira com um profissional de 18 anos de estrada, com experiência acumulada em diversas categorias e ainda educador na acepção da Palavra? Pois é.

Fazer o trabalho certo

Não digo que as chances de Felipe Moreira dar errado são totais. A proporção está em 50%\50%. Mas a diretoria da Ponte Preta faria um grande favor ao seu próprio treinador se deixasse de lado estas comparações sem nexo e sentido.

A saída consciente é trabalhar em cima de fatores reais que podem fazer Felipe Moreira ter uma gestão exitosa na Ponte Preta. É disso que vamos tratar em outro artigo nesta página.

(análise feita por Elias Aredes Junior)