Na sua apresentação como técnico do Guarani na segunda-feira, o técnico Mauricio Barbieri confessou ser este o principal salto de sua carreira. Vai tentar o terceiro acesso e desta vez em um clube com repercussão a nacional. Após obter sucesso no Audax do Rio de Janeiro e do Red Bull, vai apostar tudo nos seus métodos de trabalho para triunfar no Brinco de Ouro. Ouso dizer que está é uma chance única na história do Guarani. Delírio? Loucura? Nada disso. Sinal dos tempos.
O Alviverde atravessa uma grave crise financeira e política há 17 anos. Amargou diversos rebaixamentos e alguns acessos como lampejo de ressurreição. Duro foi constatar que neste tempo tanto o clube e parte da torcida pararam no tempo. Futebol evolui de modo vertiginoso, os conceitos são alterados a cada segundo e é preciso ficar antenado. Ficar preso ao passado só traz prejuízos. E o Guarani ficou refém do passado.
Não digo em relação ás conquistas e sim aos conceitos. Desde a saída de Luiz Roberto Zini do Guarani, em 1999, 40 nomes diferentes sentaram no banco de reservas . Desse total, boa parte das apostas foram em cima de técnicos consagrados e adeptos de métodos antigos de trabalho como Marcelo Veiga, Pintado, Jair Picerni, Joel Santana, Zetti, Branco, Paulo Roberto Santos, Ademir Fonseca e até o exitoso Marcelo Chamusca.
Gente até com formação tática, mas muito mais adepto a tática da boleiragem, a uma relação quase paternal no vestiário. Sim alguns da velha guarda arregimentaram resultados muito bons, como Oswaldo Alvarez, o Vadão e Vilson Tadei. A pergunta é essencial: até quando o Guarani viverá de cartas marcadas? Pois é.
Independente dos resultados – que foram ruins- profissionais como Tarcísio Pugliese e Vagner Mancini enfrentaram dificuldades não só porque jogavam na retranca ou eram defensivistas. Eram profissionais. Exigiam ao máximo do jogador. E tinham uma relação com a imprensa e torcida que permitia proximidade diminuta, apenas para tirar as dúvidas de praxe.
Se levarmos em conta este histórico, a tacada do responsável pelo futebol bugrino, Marcus Vinícius Beck Lima, é ousada: tirar o Guarani do Século 20 e sua concepção barroca de futebol. Quer mirar o futuro.
Deficiências de estrutura da agremiação podem ser um adversário poderoso quando você implanta um trabalho calcado em treinos de curta duração, valorização do posicionamento tático, ênfase na posse de bola e aproveitamento do potencial de cada atleta.
A aposta não é em vão. Vale a pena. E se o plano der certo? Mauricio Barbieri, sua comissão técnica e Marcus Vinicius farão o torcedor bugrino ter a sensação idêntica de um motorista que passou anos e anos andando de carro popular, com ar condicionado e confortável, mas que troca por um outro veiculo com as regalias anteriores, mas com motor potente e modernidades. Ou seja, o carro antigo era bom, mas o atual é muito melhor. O que produzirá o fracasso? O retorno dos “dinossauros” e o abraço a um conceito arcaico. Não existirá meio termo. É paraíso ou inferno. Modernidade ou retrocesso.
Que exista gasolina suficiente para percorrer a estrada pedregosa da Série A-2 e a rodovia cheia de curvas da Série B do Brasileirão.
(análise feita por Elias Aredes Junior)