Todo dia é dia de Ponte Preta. Isso não pode ser esquecido! Jamais!

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Hoje é segunda-feira, dia 07 de julho. Tempo de trabalho duro. Época para ganhar o dinheiro. Espere. Olhe o calendário. Hoje também é dia de Ponte Preta. A hora de abrir o armário e ver o manto pendurado e vesti-lo. A faixa transversal que faz sonhar, ambicionar e suspirar o coração por um amor de quase 125 anos.

Ok, eu concordo que o relacionamento está travado, trôpego, sem rumo. Não combina ver a Nega Véia na terceira divisão nacional. Não há como se conformar e olhar para o gramado e ver adversários de segunda ou terceira linha da geografia da bola. O mesmo espaço que já recebeu gigantes que tremiam diante de uma multidão enlouquecida. Equipes por vezes incapazes de superarem públicos de 15 mil, 18 mil almas prontas a empurrarem a bola para o gol.

De saírem esfuziantes pelas ruas de Campinas prontos para contarem novas façanhas de um clube capaz de romper ritos, tradições e prognósticos. A campanha na Série B de 2011, as participações nos brasileirões no início do século. E os craques? São infinitos. Nem relacionei Dicá, Oscar, Carlos Gallo e os heróis da década 1970. Quero relembrar Washington, Mineiro, Luis Fabiano. Abro a mente e relembro o gol de Felipe Bastos. Por um dia o Pacaembu foi Moisés Lucarelli. Por meses e anos, o Brasil era pontepretano. Caravanas que cortavam o Brasil na década de 1960 e 1970. Excursões que empunhavam bandeiras e o sorriso de milhares que buscavam a esperança pelas estradas.

Seria fácil deixar a amargura contaminar a beleza da memória. A saída mais prática é culpar, procurar o réu por você, torcedor pontepretano viver tempos tão difíceis. Épocas de desaparecimento do noticiário. Flashes de constrangimento e vergonha diante de uma realidade ácida e seca. Terceira Divisão é como um deserto sem cactus. É o olho com lágrima seca. Sem motivo para sorrir ou chorar. É o desalento em forma de bola.

Não quero estragar o seu dia. Quero propor uma alternativa. Desejo elevar aquilo que pode ser um ato de resistência. Porque futebol vai muito além do gramado. Futebol é gente. Criança. Adulto. Idoso. É o sorriso que produz resiliência, ternura, afeto, fraternidade.

Como? De que maneira? Para quem for estádio, não se acanhe em pegar aquela sua cervejinha sagrada, transformá-la na imaginação em uma taça refinada e dar um brinde com seu amigo de arquibancada. Motivo? Você é pontepretano. Isso basta! E quem está em casa? Ser pontepretano é, antes de tudo, é desfrutar da emoção coletiva. Convoque seus pais, parentes, amigos, agregados. Utilize seu aplicativo de mensagem como um megafone capaz de espalhar o coração preto e branco por todos os cantos de Campinas. E se a solidão aparecer? Não surgirá. Quem é pontepretano, nunca está sozinho. Nos céus, anjos chamados Donana, Conceição, Décio, Cilinho, Carlão Perna de Pau, Zé do Pito estarão com suas asas sobrevoando cada casa, posto de gasolina, guaritas e qualquer lugar em que um pontepretano estiver com um celular ou rádio para se apaixonar e vibrar por algo que está além de um time de futebol. É um sentimento. Sentimento que não morre.

O amargo deve questionar: mas tudo isso por causa de um jogo contra o Tombense? Para você, isso não deve ter a mínima importância. Mas qualquer adversário é nada, é um atomo perde de algo fundamental: é uma honra e uma delícia pontepretano. Em qualquer hora. Qualquer lugar. Quem não concorda, jamais saberá o que perdeu. Uma pena.

(Elias Aredes Junior-com foto de Marcos Ribolli-Pontepress)