A derrota para o Vila Nova foi uma ducha de água gelada na cabeça do torcedor do Guarani. Perder significou ver a Série B cada vez mais distante.
Disputar a terceira divisão nacional pela sétima vez é um carimbo de humilhação e queda de padrão do clube na geografia do futebol nacional. É constatar na prática todo o esforço pela formação da liga ir embora. Automaticamente o aumento de receitas ser apenas uma miragem.
Um rebaixamento que ganha contornos ainda mais dramáticos se verificarmos a necessidade de boa campanha na Série A-1 do Campeonato Paulista de 2023. Afinal, como fazer boa campanha com a credibilidade lá embaixo em virtude do rebaixamento? Pois é.
Mas eu quero abordar o prejuízo do torcedor bugrino sob outro angulo. O papel do futebol como balsamo da alma do torcedor bugrino.
Sim, eu não exagero. O torcedor médio comum não tem tempo para ver as disputas políticas bugrinas. Também não quer ver discussões em torno de construção de uma nova arena, de um centro de treinamento ou de sede social. Ou os debates interminaveis nas redes sociais sobre SAF ou quem realmente comanda o Guarani.
O torcedor médio bugrino não se interessa por filosofias de escalações ou possiveis contratações. Ele quer consumir uma receita simples: ingresso barato, estádio lotado, time competitivo e vitórias empilhadas uma cima da outra. De preferência com conquista de título. Ou de acesso.
Esse torcedor, caso o rebaixamento seja consumado, vai esquecer rapidamente dos dirigentes incompetentes e responsáveis pela montagem do elenco. Assim como recusa-se a lembrar os técnicos e jogadores que foram protagonistas dos 10 rebaixamentos na história do clube.
E por que apagar esta memória? Qual motivo leva o torcedor a ignorar os fatos e entraves políticos do dia a dia? No ponto e sem enrolação: a vida de qualquer brasileiro é muito sofrida. Se o dia a dia é amargo, para que recordar as decepções?
Se você for um trabalhador com carteira assinada ou prestador de serviço, tem que acordar cedo, pegar o transporte coletivo precário servido pela cidade de Campinas e durante o expediente ser forçado a produzir resultado e produtividade em alta escala. Almoça de maneira abrupta e rápida, precisa conviver pela exigência de resultados em curtissimo prazo e depois volta para casa no final do dia esgotado e sem forças até para tarefas simples.
Se você é pequeno, micro, médio ou grande empresário os seus dramas não são pequenos. Viabilizar recursos para sustentar uma empresa com dezenas ou centenas de funcionários, honrar a folha de pagamento e uma carga tributária repugnante e ainda precisa encontrar recursos para expandir e lucrar.
O que esses dois cenários tem relação com o futebol?
Tudo.
Seja o operário ou empresário, eles encontram no Guarani e no futebol uma oportunidade de diversão e de construção de esperança. Sentar na arquibancada do Brinco de Ouro não é apenas um ato de torcer ou de fé. É de construção contínua da esperança. O estádio é catapulta para acreditar de que tudo pode ser melhor.
Então, quando o Guarani enfia-se em uma campanha degradante e sem perspectiva de melhoria, é como você se ver em mar revolto sem boia.
Futebol não é apenas lazer e entretenimento. É fator de construção de nossa identidade. É extensão de nossa vida. Ou um sinal de que aquilo que está mal em nossa vida pessoal pode ser algo melhor no futebol. Porque o futuro do time do seu coração já está melhor. Quando essa cadeia é quebrada, parece que tudo desaba e fica mais pesado. Inclusive o trabalho do cotidiano.
Você pode achar uma bobagem mas muita gente tem isso como prioridade.
Se jogadores, dirigentes e comissão técnica entenderem o papel que o futebol pode exercer na vida das pessoas não tenha duvida: uma nova energia poderá ser criada para tirar o Guarani do atoleiro. Não é pouco.
(Elias Aredes Junior-foto de Luciano Claudino-Especial para o Guarani F.C)