Existem fatos que transcendem o esporte. Ultrapassam qualquer rivalidade. A morte de João Pedro Braga, 18, filho do treinador do Fluminense, Abel Braga, encaixa-se neste modelo.
Querido no futebol, o técnico recebeu um mar de solidariedade em relação ao acidente doméstico que tirou a vida do seu caçula. No estádio Nilton Santos, por exemplo, o técnico Dorival Junior chorou durante o minuto de silêncio antes do duelo entre Botafogo x São Paulo.
A partida entre Ponte Preta x Fluminense foi adiada para o dia 09 de agosto. Uma atitude sensata do departamento de competições da CBF e que concede prazo para a torcida da Macaca preparar um mar de amor e carinho para Abel Braga.
Em conjuntura normal, o comandante tricolor já deveria ser recebido com respeito e deferência diante de uma tragédia humana. Com a Macaca, o sentimento é mais profundo.
Abel Braga faz parte da história da Ponte Preta. Foi um dos protagonistas da campanha do brasileirão de 2003, quando o atraso de salários mutilou o elenco e fez a alvinegra temer o rebaixamento. Qualquer outro técnico poderia largar o barco. Se não fosse pelos atrasos de salários que seja pelas condições de trabalho e pressão interna.
Nada disso. Abel Braga não abandonou o barco, sofreu as cobranças e críticas da torcida ao lado do então diretor de futebol Marco Antonio Eberlim e foi premiado com a vitória por 2 a 0 sobre o Fortaleza e a permanência na divisão de elite. Coincidência ou não, após tal epopeia sua carreira deu uma guinada: campeão da Copa Libertadores e Mundial em 2006, campeão brasileiro em 2012…a Ponte Preta mudou a vida de Abel Braga. E o treinador aguçou na torcida o sentimento de ser pontepretano com aquela campanha.
Não tenho ideia do que farão as torcidas organizadas, o torcedor comum, participante do programa de Sócio Torcedor, dirigentes e jogadores e comissão técnica da Macaca. Só tenho convicção que Abel Braga, ao pisar no Majestoso no dia 09 de agosto, precisa se sentir em casa. Necessita receber um bálsamo de amor. Não, não será suficiente para aplacar um dor dilacerante, que nunca vai passar. Vai amenizar, mas passar é difícil acreditar. Mas o Majestoso, que um dia foi sua casa, precisa lhe transmitir uma única sensação: a de que não está sozinho.
(análise feita por Elias Aredes Junior)