Um diagnóstico sobre a derrota do Guarani e a explosão de raiva do torcedor

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O Guarani perdeu a sua primeira partida na Série C do Campeonato Brasileiro. Um fato que deveria ser encarado com naturalidade diante da liderança e da situação confortável no grupo B. Nada disso. O que se viu após o confronto em Mogi Mirim foi a revolta da torcida, rápida em apontar protestos contra os jogadores e o presidente Horley Senna.

Quem não está envolvido com a situação ficou sem entender. Como uma lua de mel vira uma separação quase litigiosa em questão de dias? É complexo, estranho e necessita de explicação pormenorizada. Pontos que fogem a análise de conjuntura feita por torcedores, jogadores, dirigentes e imprensa.

O histórico traumático- A campanha do Guarani na Série C em 2013 produziu sequelas. Sob o comando do técnico Tarcisio Pugliese, o Alviverde terminou o primeiro turno com 18 pontos e na liderança do Grupo B. Com um detalhe: assim como nos dias atuais, a equipe tinha uma dificuldade tremenda para balançar as redes. Tanto que o atacante Nena passou pelo Brinco de Ouro sem sentir o gosto de comemorar com as arquibancadas.

No segundo turno perdeu um jogo para o Caxias no Brinco de Ouro por 1 a 0 e não se encontrou mais. Ficou com 24 pontos e na última rodada, com igualdade por 1 a 1 com o CRAC, o Brinco de Ouro foi palco de cenas constrangedoras protagonizadas contra o  técnico Tarcísio Pugliese. Quando empata sem gols contra Portuguesa e Botafogo e perde do Mogi Mirim em 2016 o Guarani parece querer oferecer uma reprise daquele período de terror.

Perda da Auto estima- O torcedor do Guarani empunha com orgulho o selo de Campeão Brasileiro de 1978 e de vencedor da Taça de Prata de 1981. Tem um currículo que poucos equipes médias do futebol brasileiro podem ostentar. A cada entrada em campo para um confronto na terceirona, o que o torcedor sente é que aquilo que não combina. Está fora de lugar. Um sentimento de depressão é invadido quando verifica-se quem está na Série B. Como o Guarani pode ser tão incompetente ao ponto de presenciar Luverdense, Brasil de Pelotas, Londrina, Tupi e Oeste de Itapólis na segundona enquanto a terceirona parece um fardo definitivo a cada derrota decretada? Perder do Mogi Mirim é a ponta do iceberg.

Horley Senna – Ressalte-se sua melhoria nos últimos meses. Parece um pouco mais cauteloso. Os deslizes, no entanto, são suficientes para criar um passivo junto ao torcedor que fica difícil de administrar. “O Guarani é o Barcelona da Série C” ou os “Os outros que me desculpem mas uma vaga já é do Guarani”, são frases de efeito muito boas para a imprensa, na confecção de manchetes chamativas mas se constituem em um problema sério quando acontece uma nova frustração ou derrota. Fica a sensação de que a encomenda não foi entregue. Trabalhar em silêncio e esclarecer informações quando for chamado é a melhor saída.

A imprensa – Aqui é um misto de autocrítica com reflexão. A imprensa campineira é um celeiro de talentos. Talvez a principal do Brasil. Sua principal inimiga é o provincianismo, esta praga que impede de se verificar as coisas como elas são. Nos últimos anos, existe uma clara divisão: uma parte tenta exercer um jornalismo independente, crítico, apartidário e sem medo de apontar as mazelas e administrativas do clube.

Outra parte infelizmente optou por um caminho calcado na alienação, na ênfase no passado e esquecimento do presente. A sina é dourar a pílula para que o torcedor bugrino acredite em algo fantasioso. Resultado: conseguiram criar um mundo de faz de conta. Ali, a crise bugrina é passageira e um acidente de percurso e o time é vítima de um complô. Inclusive daqueles que desejam praticar um jornalismo puro e simples.

O encanto não é para sempre. A cada derrota, o torcedor ,em um misto de desilusão e falta de perspectiva, explode de raiva. Mas não cobra de quem lhe passou o clima de ilusão e sim daquele que luta para lhe mostrar a realidade. Infelizmente, uma parte da torcida bugrina é dependente deste elixir ilusório, que prega a solução do Guarani em um passe de mágica. É um círculo vicioso. Sem hora para acabar.

Poderia citar outros meandros deste diagnóstico mas tudo pode ser resumido em uma frase: sem se olhar no espelho e encarar suas virtudes e defeitos, o Guarani jamais vai produzir confiança irrestrita de seu torcedor.

(Análise escrita por Elias Aredes Junior-Foto de Israel Oliveira)