Idolatria não se explica. O futebol fornece razões desprezadas pela coerência. Resultados são importantes e fundamentais. Em outras, a frustração serve como combustível de uma admiração capaz de atravessar gerações.
A Ponte Preta vive tal fenômeno com o técnico Jorginho Campos. Ele teria motivos para ser habitante do vale do esquecimento. Ser mais um. Em contrapartida, em toda a saída de técnico o seu nome é ventilado. Virou um fantasma. Paira sobre a cabeça de pretendentes.
Pelos números frios, não faltariam motivos para criticas. Participou da campanha que culminou com a queda no Brasileirão de 2013. Perdeu jogos emblemáticos, como diante do Náutico, quando o ingresso a R$ 2 ou R$ 1 atraiu 12.265 pagantes ao Majestoso. Derrota de virada por 2 a 1.
A Sul-Americana deveria ser a pá de cal. Perdeu para o Lanús por 2 a 0 e cometeu erros na escalação. Fernando Bob na lateral-esquerda e Magal de volante se constituiu uma destas montagens impossíveis de compreender. Sem sentido nenhum. Poderia receber a alcunha de professor pardal. Nada colou. Virou ídolo de parte relevante da torcida. Por que? Qual o motivo?
Para entender tal sentimento, uma viagem a nossa trajetória é necessária. Todos temos conquistas. Casamento, um carro novo, a formatura no ensino superior ou a aquisição de uma residência. O alcance do topo não é feito de modo solitário. Temos uma companhia, um aliado de ocasião para nos incentivar e buscar o sonho dourado. Mãe, pai, tio, sobrinho, amigo…as possibilidades são infinitas.
Este foi o pulo do gato de Jorginho. Ao desembarcar no estádio Moisés Lucarelli, as arquibancadas eram lotadas de sonhos. De ser campeão. De erguer uma taça. Ser eternizado. Desejo adormecido pelo discurso do presidente de honra Sérgio Carnielli e de seus integrantes de diretoria (inclusive o atual oposicionista Márcio Della Volpe) de que o futebol brasileiro transformou-se em extensão do país e a desigualdade de renda permitia a Ponte Preta, no máximo, viver uma vida de classe média baixa: com poucos recursos e dignidade.
Eis que a tormenta do rebaixamento não impediu Jorginho de propor um pacto pelo titulo. Venceu o Velez Sarfield e a avalanche parecia avassaladora. Trucidou o São Paulo e a final parecia a estação final de um desejo coletivo, capitaneado por um treinador com passagens pela Seleção Brasileira e especialista no caminho das pedras. Sabia disputar um título. Conhecia o sabor do olimpo. Como duvidar? De que forma ficar fora da proposta irrecusável?
A experiência impactou. As declarações do próprio treinador após a derrota para o Lanús eternizaram o seu legado. “Queria que nossa torcida tivesse essa alegria (na ocasião, ele apontou para as arquibancadas do estádio do Lanús e chorou). Demos nosso melhor, mas não conseguimos completar o ciclo, uma campanha maravilhosa na Copa Sul-Americana”, disse Jorginho logo após o apito final. A gente sabia do poder dessa equipe. Se saíssemos na frente (no placar) iriamos sair com a vitória. Foi uma experiência maravilhosa para a Ponte. Cansei de perder títulos e no ano seguinte ser campeão”, disse Jorginho.
Suas frases e posturas deixaram no ar a impressão de uma obra inacabada. Que torcida espera que seja completada. Conseguirá? As arquibancadas querem voltar a sonhar e abraçar a realidade tão desejada.
(análise feita por Elias Aredes Junior)