Uma reflexão sobre a invasão das apostas esportivas no futebol brasileiro

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O Guarani jogou e perdeu do Vasco da Gama por 2 a 1 . A Ponte Preta ganhou do Bahia por 3 a 1. Já o Flamengo goleou o Velez por 4 a 0. 

Enquanto a bola rolou nestes três jogos, dezenas de sites de apostas foram invadidos por milhares de internautas. Estas pessoas depositaram o seu dinheiro nas mais diversas apostas embaladas por perguntas que á primeira vista causam estranhamento.

Quem vai sair na frente? Quem vai virar o jogo? Quantos escanteios serão batidos? Quem marcará o primeiro gol? E o ultimo gol? Quem vai errar mais passes? Quem será expulso? Quem tomará cartão vermelho? Quem vai errar mais passes? O goleiro vai fazer uma defesa díficil em que minuto?

Poucos faturaram os prêmios colocados à disposição pelas páginas de apostas esportivas. A maioria perdeu. Mas vai voltar. Na próxima rodada, na próxima hora, nos minutos seguintes aos jogos. Porque é o que poucos tem coragem de dizer o que são as apostas esportivas: jogo de azar, algo que é definido pela lei 13756 de 2018. Como todo Jogo de Azar existem riscos, inclusive para o sistema de saúde pública.

Tudo é tolerado. Assim como a bebida alcoólica, que quando consumida em excesso pode levar ao alcoolismo, uma chaga que destrói pessoas e familias. Ou o consumo de cigarro, cujo consumo recebeu reparos veementes nos últimos anos. Na atualidade, quem fuma tem consciência de que adquire a prestações um passaporte para morte.

O raciocínio não é moralismo barato.

Ou cuidado excessivo.

Jogos de azar ou de apostas é uma porta para um abismo sem data para terminar.

A própria cultura brasileira já deu seu alerta. Na novela A força do Querer, veiculada em 2017, a personagem Silvana, interpretada pela atriz Lilia Cabral, era tão fissurada em jogos de azar que se envolveu com agiotas e chegou até a colocar em risco os parentes mais próximos. Só saiu deste inferno quando admitiu que estava viciada e precisava de ajuda.

Quem pode assegurar que isso não pode afetar alguém envolvido com apostas esportivas? Vou além: por que não são feitas campanhas de conscientização para que ocorra pelo menos o consumo consciente? É angustiante verificar que aquilo que é uma atividade inocente à primeira vista não tem uma discussão séria e profunda na sociedade.

Pecado maior: não há esclarecimentos por parte dos formadores de opinião pública. Os patrocínios aparecem, as marcas dos sites de apostas são veiculadas e ninguém discute sobre o tema. Nenhuma critica, nenhum reparo, nenhuma orientação. Clubes das Séries A e B estampam as marcas em suas camisas e tudo fica em um clima de camaradagem.

A ausência de zelo em relação ao tema é tamanha que chamou a atençãodo governo Federal. Preste atenção: o mesmo governo federal que sempre recebeu apoio dos clubes. Governo Federal que tem no seu grupo político adeptos da legalização dos jogos de azar no Brasil. A Secretaria Nacional do Consumidor, de acordo com noticia publicada pelo portal Uol, fez uma notificação a clubes, federações e também à Rede Globo para requisitar cópias dos contratos de patrocínio firmados com empresas de apostas esportivas.

De acordo com a reportagem, a Secretaria Nacional do Consumidor é um órgão ligado ao Ministério da Justiça. Ou seja, é uma ação de estado. A meta seria a de apurar quais companhias estão atuando no mercado brasileiro. A reportagem do portal demonstra que o texto da secretaria afirma que “entende que a atividade pode estar sendo explorada sem a devida autorização e sem qualquer mecanismo de controle, fiscalização ou prestação de contas”. Sim, Ponte Preta e Guarani são patrocinados por sites de apostas esportivos e serão notificados, assim como a maioria dos clubes das séries A e B.

O quadro é mais delicado do que se pensa. A matéria da editoria de esporte do portal UOL demonstra que as apostas esportivas de quota-fixa ainda não foram regulamentadas no Brasil. No entanto, a falta de regulamentação gerou um vácuo juridico. Resultado: uma parte das empresas que exploram a atividade no mercado brasileiro não têm sede no país.

Um mercado que dá muito dinheiro, sem regulamentação e que é terreno fértil para um problema de saúde pública. É um erro depositar suas fichas na omissão quando o assunto são as apostas esportivas. Precisamos mudar de postura. Antes que seja tarde.

(Elias Aredes Junior- Fotos: Staff Imagens-CBF)