Eduardo Baptista é pontepretano. Gustavo Bueno, Hélio Kazuo, Vanderlei Pereira, Giovanni Di Marzio, Sérgio Carnielli, Giuliano Guerreiro e Eduardo Lacerda idem. São pessoas honestas, bem intencionadas e que desejam o melhor para a agremiação. Lutam 24 horas para transformar o local em referência no Brasil e no exterior. Atributos insuficientes para evitar o descompasso com a torcida. A cada derrota, um novo revés e os protestos aumentam. Nas redes sociais e na porta do Estádio Moisés Lucarelli. Cada um expõe seu ponto de vista e não há diálogo. É preciso reestabelecer a correia de transmissão. Como? De que maneira? O passo inicial deveria ser dado pelos dirigentes e até pelo treinador. A saida? Tenho uma sugestão. Que todas as figuras citadas retornassem as arquibancadas.
Por vezes é duro entender a reivindicação e o desejo do outro sem olhar sua perspectiva.
Os comandantes do departamento de futebol por vezes esquecem de pontos fundamentais. Esquecem que o torcedor pontepretano, seja ele sócio torcedor ou frequentador avulso, geralmente é um trabalhador com salário contado, dependente de um transporte deficiente, sem dinheiro para degustar uma mísera cerveja ou refrigerante e que no dia seguinte ao jogo acorda cedo para ganhar o suado pão de cada dia. Este torcedor encontra no futebol seu único modo de realização de se sentir vencedor. Nem que seja por 90 minutos. Se o time dele não vence campeonatos, sua aflição é presenciar atitudes como a dele: apesar das adversidades, exibe luta e dedicação é máxima para proporcionar uma vida digna a ele e seus familiares.
E os dirigentes e o treinador? A conjuntura vivida por eles é diferente de quem está na arquibancada de chão duro. Chegam ao Majestoso com carros de último tipo, pagam estacionamento e assistem ao jogo do camarote ou de uma vitalícia; Dão três passos e enfrentam uma fila infinitamente menor para degustar uma cerveja. Isso quando o patrocinador não fornece uma amostra grátis.
Ganhou? Ao contrário dos reles mortais, ele dirige-se ao vestiário, cumprimenta os jogadores e o treinador. Se a derrota aparece, a saída é diferente: sente-se poderoso para prender e mandar soltar, direcionar o destino e renovar a esperança dos sofridos torcedores. É um poder incomparável. Para Eduardo Baptista, a realidade é mais distante. Sofre pressão? Sim. Mas tem remuneração acima daquilo que ganham 99% dos brasileiros, concentra em hotéis de luxo e desfruta de um conforto no dia a dia distante da realidade dos torcedores. Mereceu? Sim, claro. Trabalhou duro e foi pago. Só que ficou mais distante da essência do futebol, que é o torcedor.
E se os personagens citados abrissem mão disso tudo? E se contra Fluminense ou Coritiba, os últimos jogos da Ponte Preta no Majestoso em 2016, o técnico Eduardo Baptista acompanhasse o jogo da Geral, ao lado daquele que economizou a semana inteira para quitar o ingresso? E se Giovanni Di Marzio fizesse abrisse mão dos confortos proporcionados pelo seu cargo e fizesse uma viagem ao passado para sentar no meio das torcidas organizadas na parte central do Majestoso? E se tivesse Vanderlei Pereira e Sérgio Carnielli como companhias? Mais: se eles pegassem filas na bilheteria para comprar ingresso como qualquer ser mortal?
Tais perguntas não geram respostas, mas outras indagações: a visão destas pessoas sobre a Ponte Preta não sofreria alteração? O sofrimento do torcedor não seria compreendido? As cobranças não ganhariam um novo sentido?
Voltar as arquibancadas não seria um ato populista e demagogo. Poderíamos apontar como um ato de humildade e de deferência para a razão de ser da Macaca. E que parece estar esquecido nos gabinetes.
(análise feita por Elias Aredes Junior)