VAR na Série B e uma discussão oportuna: será que desejamos mesmo combater a corrupção reinante no futebol?

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O VAR começou a trabalhar na Série B do Campeonato Brasileiro. É sim uma boa noticia. Apesar de ter sido iniciado no segundo turno, é instrumento precioso no combate a erros crassos de arbitragem e um barreira colocada contra a manipulação de resultados, risco cada vez mais presente após a proliferação de sites e espaços para apostas. Não por culpa desses locais, mas porque sempre tem gente mal intencionada com intenção de ganhar dinheiro fácil.

A instituição do VAR suscita uma discussão oportuna. Urgente. A origem está em uma pergunta simples: será que o torcedor de futebol no Brasil e nós, cronistas esportivos, estamos interessados em combater a corrupção  no futebol?

Quando falamos de VAR não queremos refletir sobre somente a busca de resultado correto e sim na construção de um mecanismo de combate erros técnicos (o que acontece!) e a desvios éticos, seja dentro ou fora do campo. Um VAR bem treinado dificulta o juiz que queira distorcer o resultado no gramado. O escândalo de arbitragem revelado pela Revista Veja em 2005 seria muito mais difícil de ser emplacado se o VAR existisse desde aquela época.

Defender a estrutura arcaica da arbitragem brasileira é, de certa maneira, avalizar e passar pano para a corrupção do esporte. Se o VAR não funciona direito a culpa não é do aparelho e sim das pessoas envolvidas no processo. Eles é que devem ser treinados. O sistema precisa ser aperfeiçoado.

Quando combatemos o VAR e não queremos ele envolvido no processo de um jogo de futebol de certa forma dizemos aquilo que desejamos na sociedade.

Na atualidade, nos jogos sem VAR, quando o árbitro erra para o meu time, eu comemoro e celebro. Ou fico em silêncio. Na ocasião que o juiz erra de maneira contrária, não pensamos duas vezes. Estrilamos e reclamar. Erro é erro. Prejuízo gerado deve ser motivo de inconformismo seja para qual lado for.

O VAR, de certa forma, é a produção em tempo real de um raio-X indesejado. O seu time beneficiado e a consequente omissão diante do erro é sua relativização diante do erro. Se o juiz marca contra o seu time você reclama, talvez não passe de hipocrisia. Dois pesos, duas medidas. Diagnóstico: ninguém quer ver o seu lado negativo exposto em praça publica. Alguém pode operar ilicitamente o VAR?

Sim, pode.

Mas quem tem compromisso com a moralidade no esporte tem a missão de pedir que as pessoas sejam preparadas para a função e não que se retorne ao passado. Ou você acha que alguém ficaria satisfeito em retirar do seu bairro a rede de esgoto para retornar ao tempo da fossa?

VAR na Série B e na Série A deve ser aperfeiçoado. Com investimento, qualificação de pessoal e paciência para esperar os frutos.

Torcedores e cronistas esportivos, por sua vez, precisamos entender que um esporte limpo só será alcançado com uma sociedade mais justa, igualitária e com capacidade de produzir justiça.

A eficiência do VAR será a consequência e não causa deste processo. Retirá-lo em definitivo do gramado só vai piorar aquilo que está ruim. E abrirá a passarela para os moralistas arcaicos que ajudam a destruir a credibilidade do futebol.

(Elias Aredes Junior –Foto de Fernando Torres-CBF)