Vinícius Junior é um craque. Ìdolo no Brasil. Um lutador na Espanha. Um símbolo da batalha contra o racismo em todo o planeta. Suas declarações ecoam e abalam as estruturas que sustentam este comportamento repugnante. Enganam-se aqueles que imaginam o jogador do Real Madrid como um super-herói.
Ele é feito de carne e de osso. Natural que tenha se emocionado na entrevista coletiva realizada antes do jogo da Seleção Brasileira contra a Espanha. Suas declarações evidenciam a sua necessidade de sempre vencer um inimigo presente em todos os negros. Um adversário cruel, sorrateiro, capaz de dinamitar a autoestima de qualquer um. Que corrói a força de quem deseja seguir em frente. O resumo em uma palavra: solidão. Se você consultar qualquer dicionário, vai ler que uma das definições da palavra é “o estado de quem se acha ou se sente desacompanhado ou só”.
Faça uma retrospectiva. Quantas vezes você viu Vinicius Junior ser xingado, insultado e após denunciar o ato de racismo à arbitragem ser obrigado a encarar o autor do ato sozinho, com seus companheiros de clube apenas como espectadores? Quantas vezes o jogador foi vítima de chacota e depreciação em meios de comunicação da Espanha e não existia uma única pessoa para defendê-lo? Sem contar as pessoas que fora dos microfones e das redes sociais bradam aos quatro cantos que a luta de Vinicius Junior é mi mi mi ou galhofa. Vinicius Junior em várias oportunidades é o exército de um homem só.
O que é admirável neste garoto de 23 anos é a sua capacidade de, em cada jogo, em cada estádio na Espanha e no Mundo, ser capaz de colher diversas vitórias: ele derruba o racismo, envergonha o racista e de um jeito ou de outro vence a solidão que quer atormentar sua alma. Seu companheiro inseparável é a coragem.
A solidão é substituída por um comportamento que influencia pessoas ao redor do mundo. Inclusive de quem acompanha seu trabalho, mesmo que à distância.
Querem um exemplo? Qualquer negro que tivesse a ousadia no passado de cursar jornalismo e desembarcasse em algum veículo de comunicação do Brasil, certamente ao passar pela catraca para iniciar o seu dia de serviço teria que entrar em algum país nórdico, tamanha a ausência de diversidade na redação. Melhorou. Mas o quadro ficou melhor porque negros e negras de todo o Brasil adotam o mesmo comportamento de Vinicius Junior e dos movimentos sociais contra a discriminação racial.
Todos brigam por seus direitos. Outros estratos da população tão ou mais marginalizados, como os indígenas, também bradaram por direitos. A cada brado, grito, protesto, reivindicação, tanto negros como indígenas perceberam que não há outro caminho para vencer o racismo e a solidão que não seja a da coletividade. Em todos os instantes de dor de Vinícius Júnior, todos esses movimentos e as pessoas anti racistas estavam do seu lado. E ajudaram o atleta a criar mais coragem para lutar contra os racismo e inflar a alma de coragem para seguir.
Vinicius Junior: o seu choro é o choro de quem é sedento por um mundo mais justo e sem preconceito. O seu choro pode ser fragilidade para alguns mas para muitos é a expressão de fortaleza de uma alma especial, pronta para conquistar o mundo pelos pés e as mentes por gestos e palavras. Não desista. Siga em frente. Você não está só. Juntos vamos derrotar o racismo e construir um mundo melhor e justo. Sem preconceitos.
Elias Aredes Junior é jornalista