Em 2010, uma novela na Rede Globo teve bons índices de audiência e repercussão. De autoria de Glória Perez, “Caminho das Ìndias”, retratava os costumes indianos e explicava o sistema de castas em que a elite local não permitia a ascensão das classes de baixa renda. Pior: impediam a relação entre pessoas de classes diferentes.
As eleições da Ponte Preta, queiramos ou não, patrocina um sistema parecido. Milhares tem a missão de sustentar e fomentar os sonhos do departamento de futebol enquanto que a decisão de quem dirigirá o clube está na mão de poucos.
São 835 conselheiros incumbidos de irem às urnas para decidirem os destinos da Macaca no próximo dia 27 de novembro. Boa parte destas pessoas chegaram recentemente ao clube e por vezes sequer conhecem o funcionamento do departamento de futebol e suas necessidades. Ouso dizer: sequer sentaram na arquibancada para acompanharem a equipe. Só que o estatuto lhe faculta o direito de votar e muitas vezes de acompanhar as reuniões do Conselho Deliberativo. Contra leis não há contestações. Promover modificações é a saída.
Este é o pulo do gato. O clube diminuiu de tamanho nos últimos anos. Chegou a promover eleições com 7 mil pessoas aptas a votar. O Jardim Eulina não é mais um clube social, o Jardim das Paineiras está virtualmente desativado e no fundo, no fundo sobra apenas o futebol e o Majestoso como patrimônio utilizado rotineiramente.
Boa parte disso viabilizado e mantido pelos participantes do programa de Sócio Torcedor, que de acordo com o cadastro do programa Futebol Melhor são 21.216 integrantes. Existem inadimplentes é verdade. Mas aqueles que pagam com sua mensalidade, de um jeito ou de outro, ajudam o departamento de futebol, em preservação da estrutura do estádio e até na propagação do nome da Ponte Preta.
O que eles ganham em troca? A obrigação de pagar a mensalidade, torcer na arquibancada e dizer “amém” para as decisões das 835 pessoas da casta decisória da Macaca. Conceder o direito de voto ao sócio torcedor não seria delírio e nem pioneirismo se levarmos em conta que Fluminense e Internacional concedem tal direito desde que o eleitor obedeça aos trâmites estabelecidos pelo estatuto.
Confesso meu espanto por verificar a existência deste sistema de castas em um clube popular. Uma agremiação que só cresceu e tornou-se conhecido no Brasil e no mundo por causa da paixão de anônimos. Operários, pedreiros, faxineiros, motoristas de ônibus, entre outras funções que podem não deter o poderio econômico, mas são dotados de um combustível responsável pela vitória: amor. Gente com coragem de tirar dinheiro da própria boca para passar pela catraca e acompanhar seu time.
Inacreditável e lamentável que nos últimos cinco anos a Macaca tenha reformado o seu Estatuto para atender às exigências do Código Civil e sequer tenha aventado a hipótese de aumentar o colégio eleitoral com a inclusão do Sócio Torcedor. Não seria favor nenhum. Apenas abrir espaço para quem sustenta de fato e de direito a Alvinegra campineira.
(análise feita por Elias Aredes Junior)