Com 26 anos, Maradona conduziu Argentina para a Copa do Mundo. Campeã. Idêntica idade tinha Zidane quando liderou a França para massacrar a Seleção Brasileira na final da Copa de 1998.
Com 28 anos, Romário prometeu que traria o caneco às terras tupiniquins. Prometeu e cumpriu. Poderia citar outros jogadores que na faixa etária de Neymar demonstraram externamente maturidade para suportar a pressão esportiva e física. Tiveram capacidade para aguentar as criticas e análises da imprensa.
Por que Neymar não suporta? Por que o choro desmedido quando ganhou a medalha de ouro no Rio de Janeiro e após um triunfo diante da Costa Rica?
Ele não é culpado.
Sério.
Ele expressa uma característica da nossa sociedade. Traduzindo: a infantilização da população adulta no Brasil. Não se iluda. Acontece com Neymar, comigo, com você, com qualquer um.
Não é questão de saudosismo.
Antigamente, o jogador de futebol tinha um roteiro básico. Oriundo da pobreza, atuava em campos de terra, em condições adversas e superava obstáculos, conseguia um contrato com bons times, jogava na Europa e triunfava. Tudo sozinho. Sem o auxilio de ninguém. No máximo, um advogado ou parente para ajudar nos contratos. Amadurecia a forcéps.
E hoje? Existem as histórias de pobreza, superação e de auxilio aos familiares. O dinheiro automaticamente provoca auxilio vem de todos os lados: empresários, assessores de imprensa, bajuladores.
Não é somente com Neymar. É com todos.
Resultado: fica mais difícil o atleta assimilar um banco de reservas, uma resposta negativa da comissão técnica ou uma crítica da imprensa.
Avisam a eles que são donos do mundo. Ou que merecem mimos e cuidados. Como uma criança. Deu no que deu. Perceba: a principal liderança do escrete canarinho em 2018 é o treinador. Típico comportamento de “pai”, talhado para orientar, repreender e premiar caso necessário.
Nada diferente do que acontece na sociedade brasileira. A recusa de muitos em aceitar o lado amargo da vida ou de um jornalismo crítico com o seu time do coração ou da Seleção é quem deseja vive um conto de fadas. Eterno. Quer ser tratado como um bebê ou aluno de pré primário. Quer atenção total e irrestrita. Individualista nas pequenas coisas do cotidiano.
Uma sociedade com pessoas que encaram passeata ou protesto como micareta. Na discussão política, o seu argumento é o meme. Não tem coragem por vezes de tomar decisões amargas, como a demissão de um funcionário. Transfere para uma empresa de consultoria para exercer o papel de “carrasco”.
Neymar é o espelho do que somos. Não como detentor de bens materiais, mas como alguém que se recusa a crescer. Odiamos o camisa 10 da Seleção Brasileira, não gostamos de encarar os nossos defeitos como sociedade em carne e osso. Isto não há taça que consiga encobrir.
(análise feita por Elias Aredes Junior)