Guarani e Ponte Preta, dois reféns das lembranças dos anos dourados. E que impede a evolução

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Converso com um profissional da bola. Antenado. Estudioso. Já atuou no futebol de Campinas. Troco ideias sobre o futuro dos dois clubes.

A sensação de que a Série B parece um caminho sem fim. Loucura sonhar com dias melhores.

A oitava colocação da Ponte Preta em 2016 no Brasileirão foi um acidente de percurso. O Guarani ser vice-campeão paulista em 2012 e campeão da Série A-2 são frutos do ocaso. A figura, afeita à sinceridade cortante, não pensa duas vezes e dá seu diagnóstico. “Enquanto a geração atual não passar os velhos vícios vão permanecer. Campinas está presa a 1977 e 1978. Enquanto não se livrar disso, será o mesmos efeitos negativos do Santos de Pelé e do Flamengo de Zico”, me diz o interlocutor.

É duro, cortante, ácido. E com boa dose de razão. Entendam: quando dizemos que bugrinos e pontepretanos são reféns deste período de ouro não quer dizer a depreciação em relação às conquistas em si. Estas devem ser relembradas e valorizadas. Eternamente. O que este profissional quis dizer é que hoje os caminhos para o triunfo foram alterados. O método de ontem não vale hoje e será esquecido amanhã. Triste? É a vida. Todos nós envelhecemos e ficamos defasados.

Queremos reviver os instantes épicos e utilizamos  a mesma estrada. Esquecemos que a conjuntura é diferente. Quando a Ponte Preta foi vice-campeã paulista e no ano seguinte viu o rival ser campeão brasileiro, tudo era novo.

O Brasil vivia a reta final de uma ditadura militar que deixou sequelas, Campinas não tinha sequer 600 mil habitantes e o financiamento do futebol acontecia por intermédio do passe e também da bilheteria. Os milhões gerados pelos direitos de transmissão da televisão eram um devaneio. Sem contar que o interior paulista era pujante, moderno e revelava atletas aos borbotões. Agora, vamos pensar: como queremos resultado igual com instrumentos tão diferenciados? Pois é.

Devemos encarar a verdade. Estamos atrasados. Presos ao passado. Até pensamos que o perfil dos atletas de ponta não mudou. Ledo engano.

O período de ouro gerou uma guerra de vaidades inconsequentes. Tanto em um lado como no outro os dirigentes só falam “Eu sou o melhor”, quando o correto seria dizer “eu quero fazer o meu clube ficar melhor”.

Até 1983, o Atlético-PR era um clube intermediário ou nanico do futebol brasileiro. Mesmo sendo campeão estadual, ninguém tinha duvidas de que era menor que os times de Campinas.

Pois uma geração de dirigentes colocou os vícios do passado para correr e viabilizou uma revolução que gerou Centro de Treinamento, estádio, entre outros pontos. E aqui? Tanto um lado como outro ficou feliz com vitória no dérbi. Tem sido assim há 20 anos. Convenhamos: muito pouco para quem deseja ser um player de destaque.

Em um vídeo antológico, o escritor Otto Lara Resende entrevista o dramaturgo Nelson Rodrigues. Em dado momento Otto pergunta a Nelson o que aconselharia aos jovens. O autor de “Vestido de noiva” não pensa duas vezes: “Envelheçam”.

Pois é. Apesar de clubes centenários, Guarani e Ponte Preta contentam-se com brinquedos de crianças em um mundo da bola dominado por adultos. Está na hora de crescer. Seria, aliás, um belo presente de aniversário para Campinas.

(análise feita por Elias Aredes Junior)