A bola e suas histórias: Ponte Preta, Cilinho e a carta indigesta

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Não existiu técnico mais poderoso na Ponte Preta do que Otacílio Pires de Camargo. Cilinho era uma lenda pontepretana. Seu discurso eloquente pela revelação de jogadores e por futebol ofensivo hipnotizava conselheiros, jornalistas, dirigentes e jogadores.

A divindade chegava as raias do fanatismo quando vitórias aconteciam. Trabalhador, obstinado, detalhista… Não faltavam atributos para Cilinho. Nem tudo eram rosas. As derrotas, a má fase técnica pressionavam os dirigentes. Como demitir Cilinho?

Sua personalidade forte, seu corpanzil e temperamento explosivo intimidavam os cartolas.

Foi o que aconteceu em de suas passagens. Os dirigentes na ocasião decidiram: era hora de trocar o treinador.

Quem comunicaria a decisão? Troca de ideias, discussões, aflições e decidiu-se pela redação de uma carta. Cilinho daria a rubrica, os dirigentes registrariam em cartório e tudo bem. Ficaria bravo, mas longe dos dirigentes, sem possibilidade de reações ainda mais intempestivas.

Nestas horas, o escalado era o segurança Brandão. Alto, negro, forte e pau para toda obra. Cilinho ficava no Moisés Lucarelli e o emissor foi até lá.

Ao bater na porta, encontrou um Cilinho hostil e mal humorado. Sem querer papo.

– Fala Brandão, o que foi? – disse o treinador.

– Mandaram entregar esta carta para o senhor – apressou-se em dizer o segurança

Cilinho, olhou, encarou o envelope e disparou:

– Brandão, que carta é essa? O que está escrito? Pode me dizer?

Brandão suou frio. A boca ficou seca. Aquilo não estava no roteiro. Não teve dúvidas. Usou da sinceridade para encerrar o assunto:

– Professor, eu sou segurança e não sei ler. Dá uma olhada aí e qualquer coisa fala com a turma, ok!? Até

Brandão apertou o passo e encerrou a história da demissão mais diferente da história da Macaca.

(Elias Aredes Junior)