Análise especial: como a militância de esquerda arrebentou com a política interna na Ponte Preta

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Sou adepto da teoria do doutor Sócrates de que futebol extrapola as quatro linhas. E penso que está mais do que hora de tocarmos em um assunto delicadíssimo na Ponte Preta. Muito, mas muito delicado. E que colaborou para que a agremiação ficasse neste estado de conflagração e confronto. Na lata: a interferência da militância de esquerda nos rumos políticos e administrativos do clube.

Sérgio Carnielli quando assumiu o poder em 1996 era um empresário oriundo do ramo de ótica e do futebol amador. Não tinha intimidade com os bastidores da bola. Natural que se cercasse de pessoas para apoiá-lo. Em um primeiro momento pessoas como Marcos Garcia Costa, Marco Antonio Eberlim, Danilo Villagelin, Lauro Moraes, entre outros foram fundamentais para sustentar o clube e a sua conduta administrativa.

Ao se aproximar do então vereador Sebastião Arcanjo e do então candidato a prefeito Antonio da Costa Santos, Carnielli também adotou a medida certa: realizar uma ligação com alguém que poderia assumir o poder e institucionalmente  desejava resgatar as características da verdadeira Campinas, de uma cidade voltada a valorização do espaço público. A Ponte Preta não pode ser dissociada.

Com o passar do tempo, Carnielli confundiu as estações. Achou que sua manutenção e poder só cresceriam se estivesse interligado a ações políticas de esquerda e centro-esquerda. E eis que tomou medidas temerárias.

A inicial foi a de nomear Sebastião Arcanjo, o Tiãozinho no comando do futebol pontepretano em pleno ano eleitoral. Sem contar que em 2002 abriu o ginásio das Paineiras para o lançamento da candidatura de Tiãozinho a deputado estadual. Anos depois, também fez vistas grossas a eventos de aniversários de quadros do PC do B. O apóstolo Paulo já dizia o recado há mais de dois mil anos: “Tudo me é licito, mas nem tudo me convém”.

Dali foi um pulo para que pessoas com militância política de esquerda tivessem acesso aos meandros do poder pontepretano. Constatação: o atual presidente do Conselho Deliberativo, Tagino Alves dos Santos é um quadro importante da esquerda campineira. Se não tivesse tal perfil estaria sentado na cadeira? Não. Militância política de esquerda virou passaporte para entrar na vida política pontepretana, desde que com a benção de Carnielli. Não deveria.

Deixo claro: também seria contra se o partido envolvido fosse o PSDB, o DEM, o PDT, qualquer um. Como foi deplorável os anos em que Eurico Miranda usou o Vasco para alavancar sua carreira política. E Euricão está longe de ser um quadro de esquerda. Vou além: se a oposição, que dizem ser boa parte  adepta do atual presidente da República, Jair Bolsonaro, adotar o mesmo caminho também será repreendida neste espaço.

Carnielli e seu grupo político não adotaram o caminho do exercício da cidadania. A Ponte Preta pode e deve ser uma instituição que tenha posições políticas. Posições  contra o racismo enraizado na sociedade brasileira, que celebre o 20 de novembro, o dia da Consciência Negra ou que denuncie abusos e violências contra a mulheres. Temos o caminho de convênios, diálogos ou conversas com ONG´s ou instituições não governamentais para fomentar essas pautas. Já fazer a interligação com pessoas com clara vida partidária, seja qual for o partido só traz estragos.

A atual confusão política na Ponte Preta só terá fim o dia que a Ponte Preta voltar a abrir espaço ao diálogo para seus associados e torcedores e quando ninguém mais constatar que ninguém tira proveitos de suas vitórias, sejam políticos ou de projeção social. Ser um clube do povo não quer dizer que o povo deva segurar palanque aos outros. O povo deve ser protagonista e jamais massa de manobra.

(Analise feita por Elias Aredes Junior)