É preciso buscar mudanças substantivas na Ponte Preta. Por Pedro Benedito Maciel Neto

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Após o vice-campeonato paulista de 2017 a PONTE PRETA vem colhendo apenas vexames dentro e fora do campo, além do absurdo rebaixamento de 2013.
Dentro de campo podemos listar, além os rebaixamentos no brasileirão de 2013 e 2017, as campanhas medíocres que não alcançaram objetivos em 2018 e 2019, a perda do Torneio do Interior, e nesse 2020 colhe-se um desempenho vergonhoso no paulistão, sem contar a perda do derby e de virada.
Fora de campo, após o rebaixamento de 2017, teria ocorrido um descontrole na gestão e nas informações, vide a aventura do sub-23 e o surgimento de débitos cujos valores de reclamações trabalhistas que não estavam claramente contingenciados nos balanços de 2018 e 201. Na minha opinião não se trata de omissão ou má fé dos dirigentes, mas de uma cultura sistêmica que precisa de mudança, pois o fato é que informações chegam a nós pontepretanos, conselheiros ou não, pela imprensa do que pelos canais institucionais. Isso está errado e não me serve.
O tempo da presidência plenipotenciária acabou, estamos no século XXI e o dever do diretor executivo é informar quem o elegeu, ou seja, o Conselho Deliberativo.
Nós pontepretanos desejamos um time competitivo, um clube organizado e um espaço de convivência que validamente nos proporcione momentos de alegria, os quais transformam-se em histórias que contaremos aos filhos, netos e aos amigos, mas isso está cada vez mais raro e distante.
Vejo que essa situação de crise, que pode tomar contornos gravíssimos, não obstante eu reconheça o valor e o esforço pessoal do atual presidente, que inclusive determinou o investimento na formação de quadros voltados para qualificar a gestão.
E que fique claro: o presidente Sebastião Arcanjo goza da minha confiança e benquerença, mas a situação é grave porque sua gestão segue, com o devido respeito, amadora para o que representa o futebol atualmente.
Precisamos de um PLANO DE TRABALHO, de um Plano de Negócios.
Precisamos de uma ‘Coordenadoria de Futebol’ que oriente-se por um planejamento de verdade e não meramente retórico e vazio; um planejamento escrito que oriente a estruturação desde as categorias de base até o futebol profissional (essa coordenadoria – no modelo que imagino como ideal -, seria hierarquicamente superior à comissão técnica do time profissional e que teria a função de orientar a gerência de futebol acerca da natureza das contratações).
Precisamos de um plano de negócios, outro de marketing, e um plano financeiro; precisamos de metas e aferição periódica delas.
Precisamos debater a urgência da modernização do CT ou a construção de um novo; a Arena tem que ser amplamente debatida pelo Conselho.
Precisamos restabelecer a alegria de ser pontepretano, para trazer de volta ao Majestoso o torcedor e suas famílias; precisamos de um time e não apenas de bons jogadores.
O Conselho tem que ser protagonista da mudança e não informado pela imprensa que o projeto da ARENA foi apresentado aos árabes, sem que o conselho saiba se isso é peça de marketing.
Fato é que o futebol envolve, em sua constituição, características culturais, econômicas, políticas e sociais, que o tornam um esporte massificado socialmente e com forte influência no cotidiano de muitas pessoas, e mesmo reconhecendo que cada um dá o melhor de si, faz pelo menos uma década que as direções da Ponte Preta renunciam às possibilidades de modernizar seus processos internos e preparar-se responsavelmente no presente para o futuro.
O futebol é uma manifestação cultural e popular, é uma paixão participativa entre seus adeptos, como consta no trabalho “Análise da estrutura organizacional de um clube de futebol do interior paulista: o estudo do Botafogo Futebol Clube”. Futebol é um processo sociológico, que como tal foi sofrendo transformações até chegar ao cenário contemporâneo, no qual passou a ser tratado como um gigantesco comércio, situação controversa para os clubes que não apresentam fins lucrativos, porém, que possuem muitos empresários e agências de marketing esportivo lucrando sobremaneira em função dos valores monetários do mercado.
O que fazer?
Bem, já vencemos situações terríveis como a legada pela Presidência de Marco Chedid e a de descontrole recente que possibilitou à diretoria de marketing manter relações presumivelmente ilícitas com a concessionária do setor de alimentos e bebidas do estádio.
 
Saiu um presidente simpático, mas alienado e desatento a essa circunstância, mas precisamos de uma direção profissional, que viva o dia-a-dia do clube, 24 horas por dia e que não busque socorro financeiro o tempo todo junto ao nosso presidente de honra.
 
Aliás, Sérgio Carnielli é um pontepretano abnegado, que vai muito além do discurso vazio, ele parte para a ação e sempre socorre a PONTE, mas acaba suportando “culpas” que não sei se tem, afinal é fácil apontar o dedo e culpar o outro pelo que ele faz, ao invés de olharmos no espelho e perguntarmos: “o que podemos fazer?”.
O momento não é de encontrar culpados, mas de indicar caminhos.
Reconheço no atual presidente qualidades raras atualmente no mundo, especialmente a honestidade, reconheço que ele assumiu a presidência corajosamente e num momento de crise aguda, contudo, há uma outra crise: crise legitimidade no comando do clube mais antigo em atividade no país, isso pode ser objeto de debate noutro momento e noutro espaço, registrando que esse viés da crise é componente importante em qualquer análise e para a minha proposta.
A PONTE, que foi o primeiro clube do interior a disputar o brasileirão e deu ao futebol do país jogadores que disputaram pela nossa seleção as principais competições do mundo, precisa mudar substancialmente.
Acredito que todas as pessoas são boas e que dão o seu melhor, mas é tempo de profissionalizar nossa Nêga Véia.
Por isso é, a meu juízo, chegado o momento de todos nós abrirmos mão de nossas vaidades e orgulhos (junto com elas de nossos cargos na diretoria e na mesa do conselho) e eleições gerais serem convocadas antecipadamente para que possamos unificar, a partir do conselho, as dissidências e projetar o futuro levando em conta: (1) a experiência, acumulada em nossa história, e (2) a juventude cuja energia contém a semente da necessária mudança.
É como penso, é o que apresento às críticas e ao debate, afinal:
“(…)
Vamos precisar de todo mundo
Um mais um é sempre mais que dois
Pra melhor juntar as nossas forças
É só repartir melhor o pão
Recriar o paraíso agora
Para merecer quem vem depois
(…)”
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Pedro Benedito Maciel Neto, Conselheiro Eleito e Vice-Presidente do Conselho Deliberativo da AAPP.