Com a explosão da discussão sobre o racismo estrutural no futebol brasileiro, é hora de relembrar que Campinas viveu dois instantes distintos em seus clubes a ocupação de negros em seus cargos máximos. Palmeron Mendes Filho deu as cartas no Guarani por três anos enquanto que Sebastião Arcanjo, o Tiãozinho, assumiu a Ponte Preta em novembro do ano passado. Negros que chegaram ao topo da cadeia do futebol.
Tanto um como outro nutrem algo em comum, que é um alto índice de rejeição em suas respectivas torcidas. E existe razão. Este Só Dérbi demonstrou e comentou por diversas vezes as trapalhadas e decisões equivocadas destes dirigentes.
Palmeron Mendes foi criticado apesar de ter sido o presidente campeão da Série A-2 do Campeonato Paulista em 2018. Tiãozinho sabe que, caso não consiga tirar a Macaca do atoleiro e revisitar a Série A-2 será inevitável carregar parte da culpa. Ambos representam, mesmo que indiretamente, o fracasso da comunidade negra em postos de comando dentro do futebol.
É preciso abordar um tema necessário e urgente: a sociedade lhes preparou para o desafio de conduzir clubes populares?
Uma boa gestão de qualquer presidente de clube é resultado de anos e anos de preparo, de conhecimento adquirido e de envolvimento com o futebol.
Alexandre Kalil só se transformou neste dirigente vitorioso do Atlético Mineiro porque conseguiu observar as agruras do seu pai Elias Kalil. Estágio em tempo real. Como o pai era um empresário de sucesso na vida privada e na bola não foi difícil pegar as manhas da bola. Idêntico caso se aplica a Marcelo Teixeira, que assistiu de camarote aos erros e acertos do seu pai, Milton Teixeira.
Quem não teve sucessor aproveitou-se do sistema de privilégios perpetuados aos brancos na sociedade brasileiro. Poderia citar vários como o próprio atual presidente do Flamengo, Rodolfo Landim, Sérgio Sette Câmara no Atlético Mineiro, Leco no São Paulo e por aí vai.
Será que Palmeron e Tiãozinho tiveram chances para se aprimorarem e diminuírem a incidência de erros? Não custa lembrar que de acordo com pesquisas feitas em 500 empresas em 2017 demonstrou que os negros ocupam só 10% dos cargos de chefia. Se levarmos em conta que pretos e pardos se constituem de 50% a 54% da população brasileira, dá para verificar que o caminho é longo.
Lógico que existem negros competentes e eficientes com talento para ocupar postos de comando de Ponte Preta e Guarani. Mas será que eles tem acesso e podem sonhar com essas funções?
Os erros de Palmeron Mendes Filho no Guarani e de Sebastião Arcanjo na Ponte Preta evidenciam uma sociedade que infelizmente não dá respaldo para quem tem potencial e bloqueia o acesso de mais talentos afroscendentes em várias áreas. Inclusive no futebol. Um dia muda. Oremos.
(Elias Aredes Junior- fotos de arquivo-Guaranipress e Pontepress)