Jurista explica em dois minutos o racismo estrutural presente no futebol brasileiro

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O jurista e filósofo Silvio de Almeida ganhou destaque e relevância na opinião pública em relação ao drama do racismo estrutural no Brasil. Com argumentos contundentes e baseados em dados, o professor da Fundação Getúlio Vargas e da Universidade Mackenzie deu uma entrevista ao programa Roda Viva da TV Cultura na segunda-feira, dia 22 de junho.

Em dado momento, ele foi inquirido pela apresentadora Vera Magalhães sobre como abordava o tema com seu pai, o goleiro Barbosinha, que atuou no Corinthians e já falecido. Sua resposta é um resumo perfeito da presença do racismo e do preconceito no futebol. Confira:

Ou seja, em pouco mais de dois minutos, o docente resumiu o principal obstáculo presente para a afirmação do negro no futebol: confiança.

Se a comunidade negra já encara obstáculos e problemas na vida civil para comprovar a sua competência, como evitar que tal problema não se repita dentro do futebol, uma modalidade popular, mas dominada por classes dominantes?

Os sintomas são claros. Na Seleção Brasileira, além de Barbosa, apenas Manga e Dida puderam ser titulares no gol em Copas do Mundo. A derrota na Copa do Mundo de 1950 teve por vários anos um vilão que só teve absolvição após a morte, no caso o goleiro do Vasco da Gama.

Quanto aos treinadores, poucos são os negros que se  destacam . Dos 20 times da divisão de elite, apenas Vanderlei Luxemburgo e Roger Machado estão na dianteira e representam a comunidade negra. Negros em cargos diretivos no departamento de futebol? Inexistem. Presidentes? Apenas Sebastião Arcanjo, na Ponte Preta.

Podemos esticar a análise para a crônica esportiva. Claro que temos narradores e repórteres negros. Competentes ao extremo. Mas quantos exercem a função de comentaristas esportivos em redes de televisão e rádio de alcance nacional? Pouquíssimos. E por que falo especificamente dos comentaristas? Por que são formadores de opinião, e o racismo estrutural presente no Brasil coloca claros obstáculos para o acesso destas pessoas.

Não basta viabilizar educação de qualidade e cotas. É muito, mas insuficiente. Quem não for negro precisa fazer um trabalho de desconstrução e de automática concessão de confiança naquilo que o negro pode e deve fazer. Dentro e fora das quatro linhas. E isso é um trabalho de todos.

(Elias Aredes Junior)

A íntegra da entrevista está aqui:

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