Análise Especial: o meu erro grosseiro de avaliação em relação a Dedé e a necessidade de humanizar o futebol e o jornalismo esportivo

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Dedé rescindiu contrato com Athlético-PR. Fracassou pela segunda vez em menos de um ano. E junto com ele todos os jornalistas esportivos que apostaram em sua recuperação. E este que vos escreve está incluído neste balaio. Errei e feio na previsão.

E penso que o episódio é especial para colocar um tema urgente e necessário: a humanização do jornalismo esportivo e do próprio futebol.

Eu, você que me lé, dirigentes, jogadores e torcedores (e sim torcedores) somos acometidos de um mal: usamos o futebol para brincar de Deus.

Consideramos que somos perfeitos, infaliveis, imbatíveis. Buscamos o acerto como a consagração total. Um gol, uma análise certeira, uma esquematização tática gloriosa ou uma opinião em uma conversa de bar que se transforma em realidade. A cada dia, a cada jogo, buscamos o olimpo da divindade e por vezes sem saber o rumo que tomamos.

A cada acerto nos consideramos deuses invenciveis. O jogador acha que vai jogar na Europa, o técnico considera-se talhado para a Seleção Brasileira e o torcedor sabe que se sentirá em um ser superior em uma roda de amigos. O jornalista? Ah, esse adota a arrogância e prepotência como sócias. “Ah, não falei!?”. É uma droga, é um elixir que consome, dilacera e aos poucos arrebenta a alma.

E quando o erro acontece? E quando a previsão é furada, o rebaixamento é colocado na culpa do jogador ou o palpite do jornalista transforma-se em uma grande furada. Pode parecer que não, mas é o suficiente para que aquele castelo de areia desmanchar-se em questão de segundos. E aquilo que era certeza vira dúvida. A aureola de invencivel desmancha-se. A razão do semelhante vira uma pistola pronta para atirar a matar de vez a autoestima daquele que se alimenta de algo pueril e sem sentido. Pode ser a contratação furada do Dedé. Ou a previsão errada de um jogo. Ou a contratação errada decidida pelo dirigente. A cobrança é avassaladoura. Destrutiva.

E eis que um toque de mágica, entramos em um subterrâneo dificil de sair. Percebam quantos jogadores depois que param se entregam a vícios destrutivos. E quem é jornalista esportivo e tem um pingo de honestidade deve admitir: a nossa categoria está lotada de casos de profissionais com sindrome do pânico, depressão, o alcoolismo e outros vicios que sugam e arrebentam com a alma em questão de segundos. Tudo isso gerado por conceitos perenes: uma contratação, o resultado de um jogo. Quando nada dá certo é um pulo para o abismo.

E o torcedor que erra também paga o preço? De certa forma sim. Na conversa informal do dia a dia, é deixado de lado pelos amigos, parentes ou até conhecidos quando o assunto futebol entra em campo.

Eu errei sobre Dedé. Achei que daria certo na Ponte Preta ou se recuperaria no Athlético-PR. Errei. Grosseiramente. 

Assim como eu, dezenas e centenas de jornalistas erraram no prognóstico em relação a Dedé. Mas o erro em relação a recuperação de Dedé esconde algo muito mais profundo e preocupante: o futebol virou uma máquina de moer gente: jogadores, dirigentes, jornalistas…Ninguém escapa.

O que deveria ser alegria virou caminho para o cultivo da dor e do aprisionamento da alma. Sintoma de um país doente. E sem rumo. Que Dedé encontre seu caminho. E que nós, jornalistas esportivos, possamos nos humanizar, parar de brincar de super heróis e entender que somos falhos. E que o torcedor também passe a acalentar um olhar mais humanizado para quem é responsável por acompanhar o seu clube do coração. É hora de responder com compreensão e amor quem trabalha com o seu time coração. E que pode falhar. Como Dedé falhou. E fracassou. Mas ele vai caminhar. Nós devemos fazer o mesmo. Para o nosso próprio bem.

(Elias Aredes Junior- foto de Diego Almeida-Pontepress)