Análise: até quando a torcida da Ponte Preta precisará de convocação para comparecer ao Majestoso

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Nas entrevistas coletivas realizadas após os jogos, o técnico da Ponte Preta, Hélio dos Anjos, sempre enfatiza que deseja a presença maciça do torcedor. Para o jogo desta terça-feira, as 20h30, contra o Vasco da Gama, o seu pedido é que a torcida da Macaca esteja presente em maioria. Na sua visão, não é possível que o visitante tenha um comparecimento maior e mais efetivo.

Entendam: minha critica não é em relação ao pronunciamento do treinador. Ele faz e está certo em conduzir tal processo. Também absolutamente não tenho qualquer restrição a que se faça promoção de ingressos ou que o torcedor pobre tenha prioridade na hora de preencher a moldura da arquibancada. Nada disso. Pelo contrário. Da minha parte, sou entusiasta que as classes C,D e Es sejam as prioridades na arquibancada.

O meu foco é outro. É a necessidade de convocação de comparecimento de uma torcida de um claro viés popular.

Vamos pensar. A Ponte Preta é um clube de raiz popular. Formada basicamente pelas classes mais carentes da sociedade campineira e com histórico de luta contra o racismo e qualquer forma de discriminação. Mais: é uma torcida que se gaba- com razão- de possuir um time. Ou seja, é participante, ativa, destemida e apaixonada. Reflita: uma equipe com tal perfil necessitaria de convocação rodada após rodada? Especialmente porque tratamos de um clube com forte espirito comunitário. Não falamos de qualquer clube.

Ao olhar de longe, a convocação parece descabida e sem propósito. Incoerente ao extremo. Mas ao revisitar a história recente da Ponte Preta veremos que não é tão delirante assim.

É preciso convocar os torcedores porque nas ultimas três décadas eles se sentiram expulsos da sua própria casa. A Ponte Preta tinha um dono. Ou um punhado de donos. É como você ser proprietário de uma casa e de repente um belo, uma pessoa endinheirada bate a sua porta e após apertar a campainha, ela diz em alto e bom som: sai daí que isto agora é meu!

É bom que se diga: no início da gestão, a impressão que se passava era de que o presidente Marco Antonio Eberlin cairia na mesma armadilha, sendo protagonista de todos os momentos e medidas. Parecia que ele era a encarnação da própria Ponte Preta. Não sei se esse personalismo prevalece internamente nas ações do dia a dia.

Mas dá para dizer que em termos de imagem coletiva formulada para a torcida isso já diminui e muito. A promoção de ingressos fez com que o protagonismo fosse devolvido ao verdadeiro ator principal: a torcida da Ponte Preta. Ninguém fala melhor de Ponte Preta do que ela. E se o time corresponder em campo não vai demorar muito para que Hélio dos Anjos não precise mais fazer qualquer convocação para jogos decisivos. A torcida vai preencher as arquibancadas do Majestoso por iniciativa própria, sem depender do incentivo de ninguém.

(Elias Aredes Junior-com foto de Álvaro Junior-Ponte Preta)