Hélio dos Anjos fica na Ponte Preta. O contrato será estendido até novembro de 2023. Podemos analisar perspectivas esportivas e do planejamento que será feito. Quero ir por outro caminho.
Abordar e enfatizar outro ângulo. Apesar de ser um personagem experiente no mundo da bola, neste ano de 2022 Hélio dos Anjos mostrou ser resiliente. Resistente. Persistente. Um homem que não desistiu. Jamais.
O presidente Marco Antonio Eberlin tem mérito no processo? Evidente. Ele tinha o poder nas mãos e sobravam argumentos ao final do primeiro semetre para demiti-lo: rebaixamento na Série A-1 do Campeonato Paulista, inicio irregular na Série B, presença no Z-4…se levarmos em conta a eterna turbulência política reinante na Ponte Preta não é dificil imaginar que uma troca de treinador lhe daria fôlego para calar os oposicionistas nas redes sociais.
Eberlin foi teimoso. Dobrou a aposta.
Venceu. Contra tudo e contra todos.
Existe um componente a mais nesta permanência de Hélio dos Anjos. E o que falar é algo de minha inteira visão. Nunca vi Hélio dos Anjos. Não sei qual sua opinião sobre esse tema. Mas não posso ignorar que a renovação de contrato de Hélio dos Anjos é o triunfo de um técnico no futebol brasileiro, ainda tão resistente. Pense bem: Roger Machado talvez nem tenha passado por um décimo das dificuldades enfrentadas por Hélio dos Anjos? E sobreviveu.
Por que a permanência de Hélio dos Anjos é tão especial?
Queria reproduzir aqui o pensamento do advogado, jurista e filosofo Silvio de Almeida. Filho do goleiro Barbosinha, que atuou no Corinthians ele tem a seguinte definição para a inserção do negro dentro do futebol. “(…) “O que o racismo produz sobre o corpo negro? Produz a ideia de que quem produz racionalidade e merece confiança são os brancos. Então, goleiros, dirigentes e treinadores são cargos de confiança, por isso há poucos negros nessas posições”.
As declarações dadas por Silvio de Almeida foram dadas em junho de 2020 ao Sportv. Ele ainda diz o seguinte: “(…) “Futebol não é só futebol. Futebol é política. Futebol é economia também. Não dá para imaginar transformações sociais que não afetem o futebol. A manifestação dos jogadores é por algo que arrebentou no mundo. Alguma coisa está muito diferente. A questão racial ganhou uma urgência. (…) Todos se sentem responsáveis por fazer algo. O futebol não é administrado de maneira democrática. Veja as posturas da Fifa em relação a manifestações políticas dentro do futebol. Os jogadores negros passam por racismo na sociedade, que depois cobra que eles tenham posições políticas sobre questões complexas que a maioria das pessoas não sabe falar a respeito”, completou.
Pare e pense um pouquinho. Hélio dos Anjos renovou o contrato por sua capacidade, competência, filosofia de trabalho. Mas a extensão de sua presença em Campinas também é uma prova que o talento negro, seja no gramado ou no banco de reservas precisa e deve ser valorizado. O futebol só tem a ganhar com isso.
(Elias Aredes Junior com foto de Alvaro Júnior-Pontepress)