A dura lição da Copa-2018. Sul-Americanos comem poeira dos europeus. E a culpa não é só da falta de qualidade no gramado!

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Durante a fase inicial de consolidação da Copa do Mundo, os países sul-americanos transmitiam aos seus torcedores que o futebol era um espaço imune aos efeitos negativos da desigualdade de renda predominante no planeta. O talento seria suficiente para suplantar alemães, ingleses, italianos, holandeses e outras nações europeias. Contar com um país melhor e serviços eficientes de saúde, educação e transportes eficientes não seriam transportados ao gramado. O  talento puro decidiria e ponto final.

A Copa do Mundo que se encerra traz uma notícia ruim. O dinheiro e a influência econômica alavancaram a participação da ciência no futebol de uma maneira nunca vista, algo admitido pelo próprio presidente da UEFA, Aleksander Ceferin. Desde 2002 só tivemos campeões europeus: Itália (2006), Espanha (2010), Alemanha (2014) e França (2018).

Junte isto que se um jogador teve uma infância pobre na França, por exemplo, teve muito mais instrumentos de desenvolvimento cognitivo, intelectual do que qualquer criança brasileira que frequente uma escola pública ou privada no Brasil. Pergunte a qualquer professora de educação física sobre o tamanho das dificuldades para desenvolver aulas que produzam melhoria aos jovens e saberá do que falo.

Cronistas esportivos disfarçam, criticam ou idolatram Tite, mas o fato é que começamos a sentir os efeitos de anos e anos de negligencia pela falta de uma política esportiva, que forneça cidadania e saiba depurar as revelações e lhe dê o sustentáculo emocional. Sem contar a destruição do interior paulista, celeiro de craques no século 20. Só contesto que a Lei Pelé é o vilão. Nada disso. Em resumo, é a incompetência e a obsessão de dirigentes ligados a métodos arcaicos que destruíram nosso futebol e que agora coloca em risco o futuro.

Criticamos Neymar com razão. Seu discurso vazio, sem ideias é o estopim para um ato de desespero. Quantos adolescentes sofrem no Brasil com os mesmos problemas, com a falta de cultura, de lastro intelectual não só para enfrentar o futebol, mas a própria vida? Sim, Neymar está cheio de dinheiro. Ótimo. Merecido. Mas por vezes conhecimento e desenvolvimento físico desde a infância é fundamental Por enquanto não parece que vai acontecer.

Temos a sensação de que o futebol exibido pelos Sul-Americanos na Copa do Mundo assemelhava-se a um time campeão da Série B vai disputar a Série A no ano seguinte. A adaptação parece impossível de ser obtida.

A mudança e a melhoria do futebol brasileiro não passarão apenas por Tite, CBF, clubes e os jornalistas. Sem uma mudança drástica na maneira como encaramos o esporte e o seu poder de formação, nada vai mudar. Infelizmente.

(análise feita por Elias Aredes Junior)