A necessidade de evolução no relacionamento dos clubes de Campinas com a imprensa. O futuro pede e exige!

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Assisto nesta noite de quinta-feira (08\12) o programa “Jogando em casa” no Esporte Interativo. Como era de se esperar a conquista do Grêmio era a pauta do programa. Eis que vejo na bancada do programa o atacante botafoguense Rodrigo Pimpão para falar do jogo de domingo entre Grêmio e Botafogo.

O melhor veio na sequência. Uma entrevista com o lateral direito Edilson e  outra com o goleiro Marcelo Grohe. Conversas demoradas com perguntas de todos os comentaristas.

Veja: dois jogadores campeões em um programa de um canal emergente. O Esporte Interativo é ótimo, mas todo mundo sabe que a audiência na televisão por assinatura é dominada por ESPN, Fox e Sportv.

Nestes quatro canais, como em qualquer lugar do mundo, tais jogadores outrora campeões também foram criticados, cobrados e pressionados. Por vezes até vitimas de matérias maldosas. Mas estavam lá. Para colher o fruto da vitória.

Dificuldades sem justificativas

Ao presenciar  este cenário não entendo porque os clubes de Campinas ao invés de facilitar, muitas vezes, até que de forma involuntária, dificultam o trabalho da imprensa. Esclareço logo de cara: em 90% dos casos os assessores de imprensa não têm culpa nenhuma. É um comportamento institucional, um distanciamento requisitado pelos donos do poder no Brinco de Ouro e no Majestoso.

Dou exemplos. Na função de repórter do Tododia acompanhei o acesso da Ponte Preta em 2011 e 2014. Na primeira vez, fui escalado para fazer matérias de repercussão o chamado “rescaldo” logo após a vitória sobre o ABC. Minha recordação mais forte é de 2011. Naquela ocasião eu conversei com o então diretor de futebol Márcio Della Volpe e o técnico Gilson Kleina. Jogador? Esqueça.

No Guarani, a goleada de 6 a 0 sobre o ABC foi histórica. O natural seria ouvir no dia seguinte Fumagalli, o melhor em campo. Quem disse que existiu facilidade? Foi mais fácil ter a presença no estúdio da Rádio Central o presidente do clube do que o camisa 10. Nada contra Horley Senna, mas ele não joga, bate escanteio ou balança a rede Queiramos ou não os protagonistas são os jogadores. E em Campinas ora são tratados pelos clubes como astros inatingíveis e nas derrotas parece que são considerados marginais. Por isso não podem ser submetidos a “sabatina” da Justiça (no caso a imprensa).

Jornalistas serem teleguiados é a solução?

Cansei de ver jogadores contratados por São Paulo, Corinthians, Palmeiras e Santos darem declarações ao Lance!, por exemplo, antes mesmo de suas apresentações oficiais. Prejudicou? Trouxe celeuma? Nada disso. Até porque o que faz uma boa reportagem não é apenas o personagem e sim a eficiência do repórter. Quando as assessorias de Ponte Preta e Guarani dificultam o acesso aos atletas parecem querer transmitir a sensação de que jornalista só pode ser teleguiado, jamais pode ter a liberdade para fazer o seu trabalho.

Não ignoro os alaridos sobre a cobertura das duas agremiações. Leio e recebo milhares de reclamações sobre o nível da imprensa campineira.

Digo com sinceridade: precisamos melhorar. Muito. Digo isso de frente para o espelho. Deveríamos evitar a paixão ficar acima da razão, sermos mais rigorosos na análise dos times, evitar transmitir por vezes avaliações equivocadas, assistir mais e mais jogos no Brasil e no mundo e procurar reciclagem constante do que acontece no mundo da bola.

Da parte deste jornalista, não escondo de ninguém minha obsessão em melhorar. Ouço rádios mineiras, cariocas e gaúchas para antes de tudo aprender aquilo que é bom e aplicar aqui diante do público que me fornece respaldo para trabalhar.

Fatos relevantes, atitudes excepcionais

Agora o fato de termos problemas e deficiências não autorizam os clubes de futebol a cercearem nosso trabalho. Alguns que atuam dentro dos clubes podem alegar: “ah, mas são iniciativas individuais ou fatos isolados. Não é uma politica do clube”, afirmam. Entendo e compreendo, mas quando tais iniciativas individuais viram rotina, a instituição acaba sendo cúmplice. Todos perdem.

Não me conformo ver Campinas, a cidade em que nasci, com dois clubes relevantes ainda contar com costumes e procedimentos de um futebol e de um jornalismo esportivo que não existe mais.

Se você acha que está tudo certo e os clubes campineiros devem tratar os jornalistas locais a pão e água, eu vou respeitar mas não posso concordar. O mundo avança. Atropela. Dirigentes bugrinos e pontepretanos precisam acordar e estabelecer uma nova relação com a imprensa. Entendam: não prego esbórnia. Ou fazer entrevista exclusiva toda hora. É impossível. Os clubes campineiros precisam botar na cabeça que fatos relevantes pedem atitudes excepcionais. Em respeito ao público.

Quanto a nós, jornalistas esportivos nós só temos uma saída: evoluir, evoluir, evoluir e evoluir. Esta é a colaboração que podemos fornecer para Campinas voltar a ser protagonista de verdade no futebol brasileiro. Que os clubes entendam algo são simples e profundo.

(análise feita por Elias Aredes Junior)