A verdade nua e crua na Ponte Preta: a oposição morreu. Inexiste. Não tem relevância. E isso é péssimo para a instituição. Em todos os sentidos

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Acompanho com atenção as repercussões e os desdobramentos da reunião extraordinária do Conselho Deliberativo da Ponte Preta realizada no dia 16 de junho. A noticia sobre a divida de R$ 270 milhões, as negociações a respeito da entrada do clube na Libra, a camisa comemorativa dos 123 anos de fundação…Todos esses pontos ficam em segundo plano diante de uma constatação: não há contraponto. Existem debates, discussões, desabafos, lamentos, brados de esperança mas voz dissonante não existe. Em resumo: a oposição morreu. Aliás, não morreu apenas. Inexiste. E não poderia existir noticia pior. Diria que é uma tragédia para um clube da dimensão da Ponte Preta.

O descontentamento dos torcedores pontepretanos com a atual administração de Marco Antonio Eberlin fica limitada em alcance ou chance de mudança. Seja na esfera pública ou em um clube de futebol temos uma expressão chamada expectativa de poder. Hoje, dentro das regras do jogo, o único com perspectiva de continuar no posto é o atual presidente. E se não for ele será alguém do seu grupo político e ungido por ele. Não será eleição e sim nomeação com voto. Simples assim. Repito: não existe oposição.

Não há contraponto de ideias. Não há uma válvula de escape para desaguar o descontentamento com a atual administração. E nutrir tal sentimento é absolutamente legitimo. Faz parte do jogo democrático. Na Ponte Preta, tal cenário é miragem. Ah, é sempre bom lembrar: não adianta contar com montanhas de dinheiro para encarar quem está no poder. Sem quadros qualificados fica tudo na boa intenção. Sob a ótica do torcedor que acompanha a vida política da Ponte Preta, é sair de uma frustração e cair em outra.

Você pode perguntar: ué, mas o outro grupo político que estava no poder não usufruia do mesmo cenário? É diferente. Bem diferente. Os presidentes que ocuparam a Ponte Preta desde 1997 trataram de cometer um erro fatal, que foi a de dilapidar o seu capital político com erros e procedimentos que destruíram a credibilidade do grupo perante a torcida.

Interessante que quando Marco Eberlin foi o oposicionista no pleito de 2008, tal quadro fez a situação se mexer. Foi a partir dali que surgiram ideias como os gestores do futebol, mudanças no organograma, entre outras medidas. E se não existisse oposição na época, será que a movimentação seria a mesma? Duvido.

Após esse boom um marco foi estabelecido em 2013. Por que? Neste periodo, a Ponte Preta vivenciou um quadro inédito: participação em quartas de final de Paulistão, integrante da divisão de elite nacional e time competitivo para disputar a Copa Sul-Americana. Só para reforçar, um processo detonado a partir da instituição de uma gestão tripartite no futebol, com Niquinho Martins, Márcio Della Volpe e Miguel Di Ciurcio. E que deu frutos como o acesso na Série B de 2011, a manutenção no Brasileirão de 2012 e a melhoria do orçamento. No entanto, o rompimento surgiu quando Della Volpe mostrou disposição de disputar e lutar pelo título da Sul-Americana. Os líderes do seu seu grupo político queriam focar na luta contra o rebaixamento na Série A. Deu curto circuito. Pior: a Macaca passou a ser um clube mais longe de suas origens, com a adoção de politicas e medidas elitistas – ingressos mais caros, diminuição do espaço para bilhetes populares-, além da adoção de uniformes alternativas das cores amarela e azul e que iam totalmente contra o Estatuto Social. Ali começava a erosão do sustentáculo do grupo político que estava no poder desde 1996.

O epílogo ocorreu com as gestões tumultuadas de José Armando Abdalla Junior, do seu sucessor Sebastião Arcanjo e seu posterior rompimento com os comandantes da chapa DNA Pontepretano, o que gerou a vitória do MRP e a ascensão de Eberlin ao poder.

Apesar dos erros de estratégia e de concepção da outrora situação, é pessimo para o futuro da Ponte Preta a inexistência de uma alternativa de poder. É contraproducente considerar que uma instituição vai avançar com a prevalência de uma única ideia.

Se uma parte da torcida está infeliz com a atual administração, não deve torcer pela renúncia ou destituição da atual Diretoria Executiva. Precisa é pedir pelo aparecimento de um novo grupo político que proporcione um arejamento de conceitos e que indiretamente provoque uma melhoria da atual gestão. Sim, porque a concorrência expulsa o comodismo.

Fora disso, é flertar com a ilusão. E de ilusionismo o torcedor pontepretano está cansado. E de saco cheio.