A vitória da França na Copa do Mundo deu o recado: a luta contra o racismo não pode parar!

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Existe um assunto delicado no Brasil. Tabu. Atende pelo nome de racismo. Especialistas e estudiosos demonstram por A mais B que existem evidências de sobra para atestar o quanto o preconceito racial trava o desenvolvimento do nosso sentido de nação. Somos um país racista e sem racistas. Incrível.

A estimativa é que um negro receba 30% a menos que uma pessoa branca que atua em idêntica função. O futebol não é imune. Sempre está na berlinda. As competições da Conmebol registraram 22 ocorrências de racismo neste ano.

Como contraponto, dos 23 jogadores da nova campeã do mundo, a França, 19 são negros ou descendentes de imigrantes de país africanos. No Brasil, após a eliminação para Bélgica, o volante Fernandinho foi alvo de xingamentos racistas nas redes sociais.

Com o retorno da divisão de elite e a continuidade da Série B do Brasileiro, os clubes brasileiros não podem ser tirados de foco. Por serem agremiações que surgiram de vontades comunitárias é natural que ocorra uma atenção especial.

Algo tão prioritário que o Estatuto do Torcedor, promulgado em 2003, afirma no seu artigo 13ª que é proibido a qualquer torcedor “não portar ou ostentar cartazes, bandeiras, símbolos ou outros sinais com mensagens ofensivas, inclusive de caráter racista ou xenófobo” e “não entoar cânticos discriminatórios, racistas ou xenófobos”. Caso isso seja registrado, as punições são severas. “O não cumprimento das condições estabelecidas neste artigo implicará a impossibilidade de ingresso do torcedor ao recinto esportivo, ou, se for o caso, o seu afastamento imediato do recinto, sem prejuízo de outras sanções administrativas, civis ou penais eventualmente cabíveis”, afirmou o texto da lei.

A preocupação contra o racismo deve constante. De acordo com o relatório “Discriminação Racial no Brasil”, de 2016, publicado em novembro do ano passado e de autoria de Débora Macedo da Silveira Manera e Marcelo Medeiros Carvalho e vinculado ao Observatório Racial do Futebol, foram constatados 35 casos discriminatórios no território nacional, sendo que trinta (30) casos ocorreram relacionados ao futebol e cinco (05) relacionados a outros esportes.

Dos trinta (30) casos relacionados com o futebol, vinte e cinco (25) ocorrências, segundo o relatório estavam atreladas a discriminação racial; quatro (04) com a homofobia e um (01) Por motivações diversas.

Diante do quadro exposto, sempre é bom reposicionar Guarani e Ponte Preta . O primeiro pelo fato do seu principal presidente, Jaime Silva, ter sido negro e a equipe ter abrigado ídolos negros como Neneca, Jorge Mendonça, Zé Carlos, entre outros. A Ponte Preta por ser reconhecida ao lado do Vasco da Gama, o primeiro clube a aceitar negros em seus quadros.

Ao ser inquirido a respeito de casos de discriminação racial o Guarani, por intermédio da assessoria de imprensa, afirmou que não há registro de denúncia e que o clube já deu exemplo ao se posicionar de maneira assertiva nas semifinais da Série A-2. “No dia 6/4/2018 divulgou a seguinte nota: O Guarani Futebol Clube repudia o ato racista ocorrido na noite da última quarta-feira, durante a partida contra o XV de Piracicaba. O clube ressalta que atitudes como essa são individuais, isoladas, não representam e jamais representarão o tamanho de sua história.

O Guarani se solidariza com o fato e reitera que recusa o racismo em todas as suas formas de manifestação. A diretoria do Alviverde se compromete a providenciar todo apoio necessário para coibir atos como esse”, reiterou o clube, que enfatiza nunca mais ter recebido denúncia alguma após o episódio na semifinal da Série A-2.

Na Ponte Preta, por sua vez, informou que não há registro de casos de preconceito racial nos jogos do Majestoso e que caso aconteçam o procedimento já é conhecido, com o encaminhamento ao posto do Juizado Especial Criminal que é instalado em todos os jogos.

Os dois clubes forneceram ótimas notícias. Que não tenham pudor em integrar-se a uma luta que não tem fim.

(análise, texto e reportagem: Elias Aredes Junior)