Análise Especial: até quando vai perdurar a dependência do Guarani em relação ao empresário Nenê Zini?

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Apesar de distantes financeiramente e em postos diferentes na vitrine do futebol brasileiro, vascaínos e bugrinos precisam discutir um assunto urgente: como fugir da dependência de empresários para viabilizar equipes e forjar times competitivos.

No clube da Colina, as dívidas que parecem impagáveis, a estrutura sucateada e a relação conflituosa com a imprensa desvia o foco da influência de Carlos Leite na viabilidade da equipe.

Queira ou não e guardadas as devidas proporções, o Guarani vive situação idêntica. Quebrado financeiramente, sem quadros políticos relevantes há quase 20 anos, o Alviverde depende, de modo umbilical, do empresário Nenê Zini, filho de Luiz Roberto Zini, presidente de 1988 a 1999.

Na falta de competência dos dirigentes, Zini ganha espaço em todas as frentes. Detalhe: fez a mesma atitude em 2013 ao influir na montagem da equipe e no aconselhamento com o então mandatário Álvaro Negrão. Apesar da recomendação da contratação de Isaías Tinoco, não conseguiu evitar o rebaixamento à Série A-2 do Campeonato Paulista.

Discretamente, o empresário retirou-se de cena e viabilizou novos negócios e assessoria de jogadores em clubes de ponta como Cruzeiro, Corinthians, Palmeiras, Atlético Paranaense e com atletas como Victor Hugo e Roberto Firmino, hoje o principal jogador do Liverpool.

Dois fatos fizeram com que a dependência voltasse. A primeira surgiu a partir dos altos e baixos na gestão das categorias de base do clube, além dos cofres combalidos. O ex-jogador Amoroso e Roberto Constantino, apesar das melhorias de infraestrutura, não conseguiram se entender com a diretoria. Resumo da ópera: Nenê aumentou assessora os seguintes jogadores gerados a partir da base: os volantes Matheus e Luan, o meio-campista Juninho e os atacantes Ronaldo, Matheus Serafim e Elias. Os dois últimos, inclusive já foram promovidos ao elenco profissional após a disputa da principal competição das categorias de base do país, a Copa São Paulo. Além deles, dois reservas do grupo do técnico Ângelo Foroni, Pedro Acorsi e Pablo Weslley, também são agenciados por Nenê. Não para nisso.

De acordo com apuração deste jornalista e colunista, a falta de recursos do Guarani é tamanha que Nenê Zini auxilia até na alimentação dos atletas, algo que não precisa fazer em outras agremiações em que têm atletas amadores sob sua responsabilidade.

A influência de Nenê Zini não está somente no departamento amador. A briga entre o então presidente Horley Senna e o empresário Roberto Graziano, logo após o vice-campeonato na Série C, deixou o Alviverde campineiro sem o seu principal financiador do departamento de futebol profissional, o que ocasionou até na saída de Rodrigo Pastana.

Sem recursos e encurralado pela pressão da Justiça em relação à prestação de contas, os dirigentes capitularam e pediram ajuda ao empresário, que encaminhou jogadores sob sua responsabilidade na Série B do Brasileiro, sendo que o principal deles é Bruno Nazário, com 48 jogos disputados com a camisa bugrina e sete gols anotados. Entretanto, alguns atletas não corresponderam, como o volante Betinho e o lateral-direito Kevin, hoje na reserva do time bugrino.

Os desacertos geraram uma dívida de R$ 2 milhões junto ao empresário. Que ninguém se ilude: Nenê Zini não faz caridade. Nem caminha pela trilha da bondade gratuita. É um empresário de futebol como outro qualquer. Quer dividendos e resultados financeiros em relação aos seus jogadores, tanto nas categorias de base como no departamento de futebol profissional. No Guarani e em qualquer clube.

Esconder e ignorar sua influência é erro tácito do Guarani, assim como a incapacidade da diretoria em buscar parcerias e outros empresários para fugir da imagem impregnada dentro da mente de parte da imprensa e do torcedor: sem Nenê Zini, o Guarani ficaria em quadro pré-falimentar. Algo que também verifica-se no Vasco da Gama citado no início deste artigo, em que notícias relatam os encontros de Carlos Leite com o grupo político liderado pelo novo presidente do Vasco da Gama, Alexandre Campello.

Empresários de futebol são um componente do futebol. Sem eles, os jogadores não conseguem colocação no mercado e não são assessorados devidamente e os clubes, por vezes, ficam sem saída em eventuais dramas financeiros pontuais. O que não dá para aceitar tanto em São Januário e muito menos no Brinco de Ouro é que tudo gire em torno de um único nome. No Brinco de Ouro, é uma prova inequívoca de que os dirigentes estão parados no Século 19. Nenê Zini, como qualquer outro, apenas aproveita-se da incompetência alheia reinante.

(análise feita por Elias Aredes Junior)