Análise Especial: como Sérgio Carnielli, sem cargo ou função, incentivou a criação de oposição contra ele na Ponte Preta

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A semana foi produtiva ao Só Derbi. Uma série de artigos de autoria de torcedores pontepretanos transformou o portal em uma autêntica tribuna. Cumprimos uma função da imprensa: proporcionar Liberdade de Expressão e dar voz as tendências. Opiniões valiosas, consistentes e que deveriam servir de norte aos dirigentes. De todos os comentários um chamou minha atenção. É de autoria do advogado Pedro Maciel Neto e foi publicado no meu twitter pessoal e diz o seguinte: “(…) O paradoxo e incomum é uma oposição que não se opõe à Presidência, mas a um ex-dirigente. Interessante demais (…)”.

Concordo com o vice-presidente do Conselho Deliberativo. Sérgio Carnielli não detém o poder de direito, mas é considerado seu detentor de fato. Resultado: criou uma onda oposicionista que vai de torcedores comuns, organizados e desemboca em ex-presidentes como Nivaldo Baldo, Peri Chaib, Marcos Garcia Costa e Lauro Moraes. O que aconteceu? Como uma pessoa que há sete anos não senta na cadeira principal do gabinete do Majestoso gera tanta controvérsia?

É preciso discorrer sobre teoria e prática. Não há como entender o quadro sem compreender o que é exercício do poder. Em uma definição simples, o poder é o direito de deliberar, agir, mandar e, dependendo do contexto, exercer sua autoridade, soberania. Ou a posse de um domínio por intermédio da influência ou da força. Ou para ser mais simples  a habilidade de impor a sua vontade sobre os outros.

Pegue este conceito e relembre como estava a Ponte Preta em 1996. Nivaldo Baldo assumiu, buscou a modernização do clube e posteriormente saiu. Sérgio Carnielli foi entronizado na presidência e utilizou o ativo para conquistar o poder de fato e de direito: dinheiro.

Carnielli era um empresário de sucesso, bem sucedido no futebol amador, mas não era um formador de opinião pública em Campinas. Não tinha voz para influir nos destinos da Macaca como tinham Lauro Moraes, Peri ou Marcos Garcia Costa, Gilman Farah, Danilo Villagelin, entre outros. Precisava construir seu espaço. Utilizou o poderio econômico viabilizado única e exclusivamente pelo seu esforço e trabalho.

Carnielli montou times, conquistou acessos, disputou finais, revelou jogadores e mesmo com auxiliares como Marco Antonio Eberlim e Márcio Della Volpe passou a deter o ativo da influência. Raciocínio lógico: se ele tinha dinheiro e começou a obter resultados, logo o seu poder presidencial ficou mais influente e com capacidade de preencher espaços.

Até que veio o afastamento pela Justiça em 2011. Carnielli foi condenado e Márcio Della Volpe assumiu. De imediato, Carnielli, que já não tinha o poder de direito, passou a querer exercer o poder de fato. Em resumo: se ele tinha recursos e deixava o clube de pé, como poderia abrir mão de sua influência? Impossível. E assim foi em boa parte das gestões de Márcio Della Volpe e inteiramente na de Vanderlei Pereira. Della Volpe ficou sem apoio porque contrariou a sugestão de Carnielli: tenha foco no Brasileirão para escapar do rebaixamento em 2013. O então presidente preferiu viver o possível sonho da conquista da Sul-Americana.

Com Vanderlei Pereira, a parceria foi a ideal. O presidente de fato e de direito cuidava das finanças e do planejamento enquanto que Carnielli mantinha intacto o seu poder de influência. Um poder influenciador e capaz de mudar o curso do rio. Só que tamanha ascendência nos últimos sete anos gerou dissidências e magoas. Pontepretanos consideram que Carnielli não tem o direito de tutelar ninguém. Não pode deter a última palavra, mesmo sem a caneta. Conclusão: alguns consideram que a Ponte Preta não pode ser influenciada pela sua visão de mundo e de futebol.

Um cenário que ficou a caráter para José Armando Abdalla Junior. Que deseja ficar liberto. Quer caminhar com sua própria cabeça. Errar e acertar sem prestar contas a ninguém. Nem que para que isso corte o “poder influenciador” exercido por Carnielli.

Apesar de estranho á primeira vista, é natural que o foco de oposição esteja em Carnielli e não em Abdalla. O primeiro representa o poder de fato e influenciador e que já provou que sabe como poucos manejar as estruturas de poder. O segundo é aquele que deseja se libertar e exercer o poder sem amarras. Resta saber quem levará a melhor.

(análise feita por Elias Aredes Junior)

1 Comentário

  1. Os fatos foram colocados numa “timeline” muito interessante. Particularmente, acho que foi fria ao falar dos feitos positivos da era Carnielli. Mas também, por outro lado, foi branda ao falar de seus tropeços. Torço e clamo pelo fim dessa dinastia. Pelo bem da Ponte Preta!