Análise: Ponte Preta e os malefícios da “Capitânia Hereditária” no departamento de futebol profissional

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Sei que mexerei em um vespeiro. Alguns vão ficar chateados. Só que é preciso refletir. Chamar atenção. Debater. Nos últimos anos, a Ponte Preta teve investimentos no departamento de futebol profissional. Teve N competições à sua disposição. E de um jeito ou de outro deixava escapar o título. Alguns personagens tiveram sua participação negativa blindada ou criticados em fogo brando enquanto outros eram massacrados a luz do dia.

Esqueça os resultados. Pense  que Marcelo Barbarotti e Ocimar Bolicenho foram vitimas de um linchamento virtual e real no período que atuaram. Entendam: todos devem ser criticados como já foram por este jornalista. De certa forma Gustavo Bueno não sofreu isso em intensidade total. Lógico, o atual executivo de futebol foi colocado na cruz pelo rebaixamento ocorrido no Brasileirão de 2017. O tempo tratou de esquecer os equivocos e ele voltou. E perdoado por muitos torcedores e dirigentes. E por que? Seus defensores argumentam o “DNA Pontepretano”. Pois é. Estamos diante talvez de  um caso de capitania hereditária futebolística no Brasil.

Para quem não sabe, esclareço:  Capitanias Hereditárias foram um sistema administrativo implementado pela Coroa Portuguesa no Brasil em 1534. Na ocasião,  território do Brasil, pertencente a Portugal, foi dividido em faixas de terras e concedidas aos nobres de confiança do rei D. João III (1502-1557). Essas poderiam ser passadas de pai pra filho e por isso, foram chamadas de hereditárias.

Na Ponte Preta, a capitania atende pelo nome de departamento de futebol profissional. Ser um forasteiro, alguém fora da história pontepretana é meio caminho para o fracasso. Ou para uma resistência.  Por mais que o individuo seja competente.  Em contrapartida, a geração de 1977, 1979, 1981 tem direito ao fracasso. E passa tal benefício isso para a próxima geração. Consciente ou inconscientemente, essa é a verdade.

Existiria boa vontade com os erros e fracassos de Felipe Moreira caso não fosse filho de Marco Aurélio Moreira? Gustavo Bueno teria seu nome absorvido e a rejeição diluída com o tempo caso não tivesse o respaldo de Dicá, seu pai e principal camisa 10 da história do clube? Vou além: Vanderlei Paiva teve mais fracassos como sucessos como dirigente. O torcedor lembra? Cobra? Não. Por que? Como fez parte do time de 1977, vira um dos participantes involuntários desta capitania hereditária. Um sistema que expurga até quem já contribuiu com eficiência. Marco Antonio Eberlim, por exemplo, foi uma persona de sucesso no futebol amador de Campinas na década de 1980 e depois fez diferença no comando de futebol da Ponte Preta. Hoje está esquecido. Se ele tivesse feito as mesmas coisas que fez e fosse um atleta histórico da Macaca Eberlim sofreria tal boicote? Os dirigentes atuais teriam coragem?

Você pode argumentar que pesam denúncias que pesam contra ele no Conselho Deliberativo. Então me explique como outros dirigentes pontepretanos que tiveram atitudes e passagens comprovadamente trágicas até hoje são reverenciados nos bastidores. Simples: eles alegam que possuem o “DNA pontepretano”, de que nasceram dentro do Majestoso. Pronto, ganharam salvo conduto.

Quando o distanciamento histórico permitir o torcedor pontepretano também chegará a conclusão que um nome como Guto Ferreira ou até de Gilson Kleina devem ser respeitados. Não são nascidos em Campinas. Não tem DNA Pontepretano. Não estiveram nos elencos de 1977 ou 1979. E mesmo assim conquistaram resultados para serem fixados por históricos.

Não, não é uma malhação contra Gustavo Bueno e Felipe Moreira. É apenas a constatação dessa loucura de excluir por antecipação qualquer profissional que não tenha uma ligação com o passado.

A Ponte Preta pode e deve cultuar os ídolos do passado. Deve homenagea-los. Só não pode considerar de que somente eles obrigatoriamente devem construir o futuro da agremiação. De que ninguém fora da linha do tempo iniciada em 1900 não tem capacidade de fazer história. É hora de dar um salto. E abrir a mente. Antes que seja tarde.

(Análise feita por Elias Aredes Junior)