Jogador de futebol tem fama de alienado. Boa parte dos casos a alcunha é mais do que justa. Ficam submetidos aos caprichos e desejos dos empresários, são tolhidos por técnicos e dirigentes e por vezes gozam de credibilidade restrita perante as arquibancadas.
Algumas exceções devem ser celebradas. Uma delas é a do armador Tiago Real, que na entrevista coletiva realizada na tarde desta quarta-feira no Centro de Treinamento do Jardim Eulina fez um apelo pela união dentro da Ponte Preta. “A gente sabe, pelo que lê, que tem um conflito aí por parte da diretoria. A torcida sabe que está devendo um pouquinho também, precisamos muito que eles fiquem do nosso lado na reta final. Nosso time é jovem, sentimos muito essa cobrança. É hora de remar para o mesmo lado, para dar uma reviravolta nesse momento e voltar a vencer”, disse o jogador.
Tiago Real foi diplomático. Cordato. Com receio de entrar em dividida. Pela sua vontade, certamente sua declaração seria nesse tom: “Estamos de saco cheio desta crise política e queremos trabalhar em paz. Será que isso é possível?”.
O espírito de sua frase não pode ser perdido. Nos últimos 10 dias não se falou em rendimento nos treinamentos, empates, derrotas, gols sofridos ou busca de classificação. O que vemos tanto da parte da situação e da oposição é um desfile de egos focados apenas e tão somente em lutar pelo poder. É Sérgio Carnielli e Giovanni Di Marzio para cá, Vanderlei Pereira, José Armando Abdalla e Gustavo Valio para lá e todo mundo quer ter razão. E a Ponte Preta? Ah, essa não precisa se preocupar. Primeiro, eles disputam o poder. Depois, vêem os escombros.
Só um bobo poderia imaginar que os jogadores passariam incógnitos. Eles são profissionais da bola e além de buscarem a independência financeira almejam atuar em um clube organizado, planejado e com bom ambiente organizacional. Ou seja, entrar no vestiário deve ser um ato agradável e não uma tortura.
Como provar ao jogador que tudo está certo diante do circo armado pelos dois grupos políticos?
Concordo que Tiago Real decepciona. Minha cabeça está em sinal de aprovação em relação a qualidade sofrível do elenco. Esses jogadores e nem a torcida merecem ficar submetidos a este espetáculo deprimente, em que a busca é verificar quem tem razão e por vezes a Ponte Preta não é sequer citada.
Tiago Real: está na hora de todo mundo remar para o mesmo lado.
(artigo de autoria de Elias Aredes Junior)