De que forma a imprensa campineira pode atrair jovens bugrinos e pontepretanos que nasceram a partir de 1990?

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A imprensa esportiva campineira tem um histórico de serviços prestados ao Brasil. Revelou inúmeros talentos e ainda hoje luta contra tudo e todos para acompanhar Ponte Preta e Guarani pelos campos do Brasil.

Emissoras de rádio, televisão, jornais e portais de internet convivem na atualidade em uma metrópole diversa, com um fluxo migratório intenso e  com duas cidades em uma: a Campinas “antiga” a partir da Avenida Prestes Maia e o pedaço da cidade cuja força motora são as regiões do Campo Grande e Ouro Verde.

O que você verá a seguir não é uma crítica ou desabafo e sim uma reflexo para buscar alternativas para que os veículos de comunicação sejam sustentáveis economicamente em médio e longo prazo. Que seja assegurada a reciclagem e a entrada de novos consumidores de noticias daquilo que acontece no Brinco de Ouro e no Moisés Lucarelli.

A pergunta é direta: o que estamos fazendo para atrair o consumidor de até 24 anos ou que estão na faixa etária de 25 a 34 anos, propulsor de consumo de qualquer país desenvolvido e de interesse dos anunciantes, a razão de existir das empresas de comunicação? Como profissional de imprensa, confesso que não tenho a resposta e só me cabe refletir.

Na pesquisa de preferência de torcida mais recente, divulgada pela Paraná Pesquisa, 16% dos entrevistados se encontram na faixa etária de 16 aos 24 anos e outros 22% na faixa de 25 a 34 anos. Se transportarmos esta conta para Campinas chegamos a conclusão que 445 mil habitantes encontram-se neste campo. Os levantamentos divulgados não afirmam qual o percentual de torcedores jovens de Ponte Preta e Guarani mas eles certamente estão com corinthianos, são paulinos, palmeirenses e santistas.

Um recorte: nas décadas de 1970, 1980 e 1990, os hábitos relacionados a futebol eram passados de pai para filho. Dou meu testemunho: meu falecido pai consumia jornais, ouvia programas esportivos e aos finais de semana acompanhava o noticiários e os jogos.

Quando a bola rolava, não desgrudava da Rádio Globo e das narrações de Osmar Santos; em caso de transmissão pela televisão, assim que o árbitro dava o apito final sua atitude imediata era voltar ao rádio para acompanhar os programas pós jogo. Com uma mudança ou outra, herdei todos esses hábitos.

Queiramos ou não, o quadro mudou radicalmente. Pais encontram-se em um estágio diferente dos filhos. Se para uma pessoa de 40 ou 50 anos consumir futebol por intermédio do Facebook, Instagram e Twitter é um processo de adaptação para não ficar trás, para quem nasceu após 1990 o procedimento é natural, como tomar um copo d´água. Seus códigos e linguagens são  diferentes.

Vou além: ele não tem pudor nenhum em admitir que acompanha o Guarani, a Ponte Preta e qualquer time da capital paulista mas também torce para Real Madrid, Barcelona, Chelsea, Manchester United ou outra grife consagrada. Ele não fala ou lembra dos jogadores apenas no noticiário esportivo ou durante os jogos. O encontro com seus ídolos também é viabilizado por intermédio do Joystick, dos sucessivos upgrades dos jogos de futebol chancelados pela Fifa.

Diante de tal cenário pergunto diante do espelho e aos coleguinhas: sabemos conversar em Campinas com esse público? Entendemos suas necessidades, ambições e expectativas? Eles gostam de rádio, televisão ou se informam apenas pela internet? Eles querem um jornalismo só calcado no entretenimento ou focado na seriedade? E se for na trilha na seriedade, qual o enfoque desejado?

Vou tocar em uma ferida: as pessoas tem diversas restrições as torcidas organizadas, seja qual for o time. Porém, tais agremiações são o principal foco de renovação de público no futebol. Em Campinas, ainda mais. O jovem pobre, da periferia por vezes não utiliza mais o rádio, o jornal e a televisão como o seu elo de ligação com o clube. A torcida organizada, com sede e espaço para encontrar pessoas da sua faixa etária e que pode lhe fornecer itens em comum.  A crônica esportiva neste campo de atuação perdeu o protagonismo e precisa encontrar uma maneira de retomar a dianteira.

Tenho prazer em dizer que três colaboradores deste Só Dérbi são jovens e ideias antenadas: Julio Nascimento, Pedro Orioli e Paulo do Valle. Não é à toa. Gosto de ouvi-los, trocar ideias e entender o mundo em que vivem. Por que são essas pessoas que daqui a 10 ou 15 anos vão decidir se querem ou não consumir noticias dos clubes campineiros. E a resolução não será dada no futuro e sim agora. É preciso respeitá-los e compreendê-los. Antes que seja tarde demais.

(análise feita por Elias Aredes Junior)