Diretoria do Guarani quer cobrar R$ 60 de ingresso. Insensibilidade ou tentativa de elitização?

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Nas décadas de 1970, 1980 e 1990 qualquer campineiro minimamente antenado com o futebol conhecia o perfil do torcedor do Guarani: geralmente descendente de italianos, classe média, atuante em profissões liberais e assíduo frequentador das piscinas do clube. Alguns chegavam a dizer que era uma réplica do torcedor são paulino por só aparecer no estádio Brinco de Ouro na maré favorável, quando existia disputa de título.

Veio a onda de incompetência do Século 21 e de modo surpreendente, a torcida bugrina abriu seus horizontes. Entrou em bairros periféricos e populares. Gente com os mais variados perfis sócio e econômicos passaram acompanhar o calvário na Série C e posteriormente na segundona nacional. Hoje, a torcida bugrina está longe de ser apenas das classes A e B. Ficou popular.

A descrição feita acima é um motivo a mais para intensificar a incompreensão em relação a decisão da diretoria do Guarani de majorar o ingresso para R$ 60 e assim tentar convencer o torcedor a aderir ao programa de Sócio Torcedor, que tem valores de R$ 20 a R$ 80. Ninguém precisa me explicar. Eu sei das vantagens como a presença nos jogos, preferência na aquisição de ingressos, etc, etc, etc.

O que falo é ainda mais profundo, que é a sintonia com aquilo que ocorre no Brasil. Vivemos em um país com 12 milhões de desempregados e com salário mínimo de R$ 998. Muitos bugrinos encontram-se nesta situação. Infelizmente. Quem vive tal quadro não quer saber de se programar para pagar mensalmente uma taxa para ter acesso ao futebol. O foco principal é a sobrevivência. Futebol? Talvez um ou dois jogos a cada dois ou três meses, desde que o valor do ingresso seja bem baixo, no máximo, R$ 10. Percebam: este perfil de público está fora dos planos do Guarani.

Já disse minha predileção por acabar com o Sócio Torcedor pelo perfil do torcedor campineiro. Se desejam  continuar, tudo bem. Que pelo menos tivessem a sensibilidade do Paysandu, que fez um cadastro com torcedores de baixa renda e vai viabilizar a sua entrada gratuita na próxima temporada.

Se o Guarani deixou de ser um clube de classe média para ficar popular que não desperdice esse patrimônio por bobagem.

(análise feita por Elias Aredes Junior)