Eduardo Baptista sacou o que é a Ponte Preta. Por que os gabinetes ignoram sua análise?

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Independente se vai conseguir ou não a classificação a próxima edição da Copa Libertadores da América, o técnico pontepretano Eduardo Baptista merece elogios por declarar e explicar na entrevista coletiva após a vitória sobre o Santa Cruz por 3 a 0 a sua percepção do que é o pontepretano que frequenta as arquibancadas. “A torcida da Ponte é de uma raiz muito simples, muito pobre. O preço de ingresso hoje custa muito para o torcedor pontepretano. É pesado. Que bom que a Ponte, junto com a Federação Paulista, fez essa promoção e conseguiu trazer esse torcedor que não tem condições. E aí quando vem é fantástico”, disse o técnico.

Não foi uma frase dita e jogada ao vento. Vem de um frequentador dos corredores do Majestoso desde a infância. Alguém que sabe e conhece as dores e alegrias vividas nos últimos 116 anos. Primeiro como preparador físico e como treinador, Eduardo Baptista certamente vibrou com o acesso ao Brasileirão em 1997, o vice-campeonato paulista de 2008, os acessos as divisões de elite em âmbito  em 2011 e 2014, o vice-campeonato da Sul-Americana.

Os profissionais da bola precisam pensar em seu sustento, mas a raiz nunca é esquecida. É por nunca ter esquecido as suas origens que Eduardo Baptista reconhece as características do torcedor pontepretano: pobre, sofrido, por vezes sem condições materiais adequadas e que por vezes abre mão de seu salário para juntar uns trocados para ver o seu time entrar em campo e entregar a alma por uma vitória. Ponte Preta é povo, massa. O treinador tem plena consciência disso.

Fica a pergunta: por que uma parte da diretoria da Macaca bateu cabeça por tanto tempo por algo tão simples?

Justiça seja feita: desde a administração do ex-presidente Márcio Della Volpe que um dilema é vivido. Começa o campeonato e toda a energia é destinada ao projeto de Sócio Torcedor. Queiramos ou não, uma forma de elitizar a platéia. Ou quem ganha salário minimo tem condições de pagar uma mensalidade para ele e seus filhos? Não, não tem. O público começa a decepcionar e uma promoção é lançada aqui e ali. Nada fixo ou apelativo, mas para seduzir as classes excluídas em uma etapa inicial.

Se dentro do gramado algo não funciona,  as promoção radicais entram no gramado. Ora é a troca de ingressos por garrafas pet; em outros é a cobrança de ingressos baratissimos (tipo R$ 5) em todo o estádio. Resultado: o estádio enche, a vibração é tremenda e a vitória é obtida na marra. Foi assim na Sul-Americana, Série B, no Brasileirão e todos os campeonatos que a Macaca participa.

A vida exige escolhas, capaz de gerar ônus e bônus. Que em 2017 a diretoria da Alvinegra defina o seu rumo. Se a opção for pelo projeto de Sócio Torcedor que então faça como Internacional, Grêmio, Palmeiras e Corinthians e privilegie para valer o projeto. Sem concessões. Privilegie quem paga o projeto. E arque com as consequências.

Se atender pela alternativa dos ingressos mais baratos de janeiro a dezembro que também não pisque e sequer reclame. Que o possível déficit na bilheteria seja coberto com criatividade e saídas administrativas e o projeto de Sócio Torcedor receba um novo rumo. O que não dá é ficar neste chove e não molha em que uma hora a satisfação é destinada ao torcedor elitizado (que gosta de arena, diga-se de passagem) e no primeiro sufoco faz apelo a massa para lhe salvar. Do jeito que está, no final das contas, ninguém está feliz. E Eduardo Baptista deve ter percebido há tempos.

(análise feita por Elias Aredes Junior)