Patrão tem três direitos: contratar, promover e demitir. Sempre tive consciência de tal pressuposto e me preparei para pagar o preço do caminho que escolhi.
Um caminho pautado pelo jornalismo com independência, criticidade e cobrança aos poderosos de plantão. Trabalho pensando no torcedor, naquele que paga seu ingresso de modo sofrido.
Não me interessa os desejos ocultos de patrocinadores, dirigentes e jogadores, muito mais afeitos a bajulações do que a encarar as suas verdades.
Depois de seis anos, estou fora da Rádio Central. Fui demitido. Um desligamento feito de modo sofrido, dolorido e que não combina com a maneira sempre cordata e carinhosa que tive com os ouvintes e os responsáveis pela emissora.
Posso dividir minha trajetória em três fases. A primeira foi quando meu telefone celular tocou em janeiro de 2012 e recebi o convite do “locutor emoção” Alberto César. De personalidade forte, consagrado (com justiça) por três Copas do Mundo, tivemos altos e baixos em nosso relacionamento. Mas a franqueza era o norte.
Se ele não gostava de determinada opinião, não gostava. Se gostava, também falava. Suas decisões eram pautadas pela sinceridade e compreensão pela linha de trabalho. Que ele discordava muitas vezes, diga-se de passagem.
Álberto César saiu e a Rádio, por quase dois anos, assumiu a direção do leme. Deixo aqui reiterado meu agradecimento a duas pessoas: Cláudia Reis e Cris Moreira.
Os outros dois, comandantes e cabeças no grupo Sol Panamby, sempre me incentivaram a sustentar a minha linha de trabalho. Foram parceiros.
Bem, chegamos a nova fase da Rádio Central, sob a responsabilidade de Beto Quinalha e Roberto Marcondes. Infelizmente, nossas linhas de trabalho não combinaram.
Não acredito que o jornalismo esportivo deva ser 100% focado no entretenimento. Neste modelo, críticas ficam em segundo plano e os bastidores do futebol desaparecem por completo.
Não me encaixo. Acredito que o futebol é um fenômeno social. Capaz de definir povos e nações. E não posso fugir da minha responsabilidade de fazer análise de acordo com aquilo que penso e acredito. Sem disfarces. Antes de tudo, é uma questão de caráter. De limpeza com o ouvinte.
Pois bem. É essa limpeza de caráter que faz a gente opinar sem medo sobre os desmandos na Ponte Preta e Guarani, sobre os erros de contratação e equívocos em diversas decisões. É, antes de tudo, clareza. Compromisso.
Nos últimos dias, percebia que não servia mais. Afinal, quando o seu comandante fala que você é “dedicado”… Desconfie: é um preâmbulo para dizer que é fraco. E, aos poucos, eu fui sumindo dos jogos importantes.
Nesta terça-feira, estava escalado para os dois programas, o Jornal de Esportes e a Central Esportiva, e fui tirado. A primeira justificativa era de que era uma mudança de escala. Depois, de que era preciso conversa. A senha estava dada.
Dois fatores me impediam de conversar. Em primeiro, meus afazeres profissionais que me faziam cronometrar o meu tempo e separar as madrugadas para estudar e me atualizar. E, em segundo lugar, eu tenho dignidade.
Posso até ser incompetente, fraco, mas em determinados momentos da vida é preciso amor próprio. Conversas ao vivo e a cores para detonar com nossa dignidade profissional só arrebentariam ainda mais com meu estado emocional.
Um telefonema com duração de um minuto encerrou minha estadia na Rádio Central.
Fico triste pelos ouvintes. Da companhia e até das broncas. Mas não há problema.
O Só Dérbi, mais do que nunca, continuará sendo minha trincheira para incomodar os poderosos, sejam eles dirigentes ou patrocinadores que não querem ver a melhoria do futebol e sim contentar-se com sua própria vaidade.
Para terminar, meu agradecimento sincero para aqueles que ainda encontram-se na Rádio Central.
Aos operadores, jornalistas e ao comandante Giuliano Biondi, o meu sincero desejo de boa sorte e votos de que um dia a prática do jornalismo seja compreendida na cidade de Campinas.
(artigo de autoria de Elias Aredes Junior- atualizado no dia 30 de maio)