Felipe Moreira não é apenas o técnico da Ponte Preta. Ele é o guardião e o defensor de uma ideia de futebol. Leia e entenda!

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A torcida da Ponte Preta está mobilizada para o dérbi. Vai lotar o estádio Moisés Lucarelli e espera por uma vitória. De preferência, consagradora. Que recoloque equipe na rota de construção e de uma boa na Série B do Campeonato Brasileiro. Neste contexto, grande responsabilidade está colocada sobre o técnico Felipe Moreira.

Não vamos disfarçar. Existe rejeição ao seu nome entre os torcedores. Ganhar vai colocar um argumento que faça a torcida repensar. E se a vitória não acontecer? Digo sem medo de errar: nada vai mudar.

Repito: nada.

Chance zero de saída.

Vou além: só se acontecer algo excepcional no futuro. Caso contrário, ele será o técnico da Ponte Preta na segundona nacional.

Felipe Moreira não é apenas um técnico. Ele é o guardião e a encarnação de uma ideia e de um conceito de futebol.

Explico: na maioria dos clubes do futebol brasileiro, o técnico de futebol é contratado para construir uma campanha em cima de suas ideias e conceitos, independente dos jogadores que existam à disposição.

Atuar de modo ofensivo? Defensivo? Retranca? Imposição? Fica ao gosto de quem comanda a prancheta. E a Ponte Preta tinha tal filosofia neste novo mandato até a gestão de Hélio dos Anjos.

O que a torcida esqueceu é que o presidente da Diretoria Executiva é Marco Antônio Eberlin. Que antes mesmo de tomar o poder, nunca escondeu de ninguém que, na sua opinião, equipes com as características da Ponte Preta deveriam privilegiar a marcação, o fechamento dos espaços e posteriormente conceder atenção na construção das jogadas. Foi assim quando ele foi diretor de futebol de 1996 a 2006. Por que seria diferente agora?

Como Felipe Moreira é alguém já integrado a estrutura da Alvinegra, podemos chegar à conclusão de que Eberlin aproveitou a brecha para instalar uma “política de estado” no futebol profissional: ou seja, o time vai jogar de determinada maneira e pronto. A missão dos profissionais e do treinador é treinar e definir os jogadores que aplicarão tal filosofia.

Você pode argumentar que isso abriria espaço para trocas constantes de treinador. Afinal de contas, se o jeito de atuar é o mesmo, o nome pouco importa.

O pulo do gato aparece: Felipe Moreira é alguém que conhece Eberlin desde a infância. É filho de Marco Aurélio Moreira, treinador revelado pelo próprio Eberlin. Ou seja, o filho conhece em meandros o pensamento do pai e que agradava ao atual chefe. Absorveu todo esse conhecimento e que lhe serviu durante sua trajetória.

Felipe Moreira certamente sabe como implementar um sistema defensivo e um mecanismo de jogo que o pai aplicava e que tinha aplausos dos gabinetes. Além disso, a presença de Nenê Santana como auxiliar técnico fixo é uma garantia a mais de que essas ideias serão aplicadas de maneira integral, pois é o homem de confiança de Marco Antonio Eberlin.

Pergunto: que outro treinador disponível no mercado poderia aplicar as ideias e defende-las com tamanha eficiência nas entrevistas coletivas? Quem teria mais competência para encarnar este papel?

Eberlin é como um freguês de restaurante que abre o cardápio, escolhe um bife de ancho mas exige que ao gerente ele tenha determinado molho e que seja bem passado. O dono do restaurante sabe que só o cozinheiro X atende aos requisitos. Caso contrário, o freguês vai embora.

Em resumo: o bife do dérbi será servido amanhã. E esqueçam: o cozinheiro não será trocado se a carne ficar queimada ou mal passada. Porque o paladar do cliente nunca vai mudar.

(Elias Aredes Junior com foto de Diego Almeida-Pontepress)