Ficar cego e alienado aos problemas é uma forma de ajudar a Ponte Preta?

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O jornalismo bem feito, honesto e decente tem  missões. A principal delas é jogar luz sobre aquilo que poucos enxergam. Contestar e fiscalizar o poder. Qualquer um. Cobrar dos dirigentes medidas eficazes e coerentes e não ter medo de retaliações. Ou manifestações orquestradas. A Ponte Preta não foge à regra.

Estamos no começo da temporada e uma parte dos torcedores mostram resquícios de falta de senso democrático. Confundem exposição de argumentos contrários com perseguição sistemática. Assim como em livros do Velho Testamento, consideram os atuais dirigentes como Bezerros de Ouro que devem ser adorados ou blindados. Tudo em nome da paixão ao clube. Balela. A propalada isenção por vezes nada mais é do que o temor de assumir uma paixão cega e inconsequente por quem senta no gabinete.

Dificuldade de entender que dirigentes são seres humanos. Erram, cometem equívocos, tomam decisões estúpidas  e que trazem consequências danosas. Nem que seja em curto, médio ou longo prazo.

A Ponte Preta não avança mais por causa desta cegueira ideológica de uma parte (uma parte!) das arquibancadas. Gente incapaz de separar o gol marcado por Pottker daquilo que é definido nas salas de ar refrigerado.

Sérgio Carnielli tem méritos? Muitos. Tirou um clube da fase pré-falimentar, devolveu-lhe a dignidade, disputou títulos regionais, nacionais e de âmbito internacional e de quebra aprimorou a estrutura do clube. Deu carta branca para a instalação do IMAP, as melhorias no Centro de Treinamento e a revelação de treinadores como Guto Ferreira, Gilson Kleina e Sérgio Guedes.

Agora, ele está imune a críticas? Nada disso. Impossível ignorar que nunca a oposição teve tanta dificuldade a ação e reação. Mesmo no Conselho Deliberativo nomes consagrados da direção do clube não prevaleceram. Saber da dificuldade de nomes como Marcos Garcia Costa e Pedro Antonio Chaib de adentrarem na reunião do Conselho Deliberativo da segunda-feira (30), é uma prova cabal de que a alienação, a falta de pensamento crítico e a capacidade de conviver com o contrário já traz danos terríveis no estádio Moisés Lucarelli. Queiramos ou não, Carnielli tem participação na formação deste cenário. De modo involuntário, que seja. Os fanáticos não enxergam. Só sabem perseguir e apagar os erros, sem argumentação. Reflexão? Esqueça.

Se os fatos não podem ser apagados, que então se estabeleça uma lavagem cerebral em quem está ao redor. Vender os engravatados como deuses do olimpo. Qual a consequência prática? A divisão da torcida em grupos distintos. Uma parte, por exemplo, desanima não pelos resultados no gramado e sim porque não vislumbra disposição de ousadia e ambição na diretoria do clube e que acaba sendo chancelado de modo cego por quem senta do seu lado. Detalhe: existe o torcedor que aprova a atual administração mas com base em argumentos sólidos, como a dificuldade gerada pela disparidade de renda existente no futebol brasileiro e a impossibilidade de contar com grandes contratações em virtude da inflação do mercado. E reconhece os erros. É uma linha de pensamento. Deve ser respeitada.

Duro é constatar a multidão só com capacidade de dizer amém, abaixar a cabeça para as circunstâncias negativas e ver teoria da Conspiração em toda e qualquer crítica. Como escudo, dizem que são isentos. Não estão nem de um lado ou de outro. Estão enganados. No fundo, no fundo, colaboram para quem deseja conquistar e manter o poder a qualquer custo, seja de situação ou oposição. Porque o alienado é sempre um prato cheio para instalação de dinastias.

(análise feita por Elias Aredes Junior)

1 Comentário

  1. Elias, me recuso a acreditar que você realmente acredita fielmente em tudo que escreve. A mensagem que passa nesse texto é que “apenas quem corrobora com sua linha de raciocínio é inteligente. O resto é apenas uma cambada de acéfalos incapazes de de discernir o lobo da ovelha”.

    Ate entendo que o papel da empresa é oposicionista – como você mesmo citou Millor Fernandes ao responder um outro comentário meu – mas se limita a isso? Ja se perguntou se nessa busca incessante por achar os espinhos entre as flores você não esta exagerando ou ate mesmo flertando com a perseguição?

    Jura que você – assim como torcedor apaixonado – acha que a Ponte tem que contratar jogadores mais caros e não medir esforços para dar um titulo a torcida? E as finanças? como ficam? Os fins justificam os meios?

    Acho que a diretoria da Ponte esta fazendo uma administração muito boa, com os pés no chão, crescendo ano após ano, se consolidando como time da Serie A, se estruturando cada vez mais, atraindo cada vez mais patrocinadores melhores, melhorando as condições da base. Enfim, é um trabalho de formiguinha mas que é muito importante. O problema é que esse processo é chato, é frio, não tem maquiagem.

    A partir do ano que vem teremos a verba do Esporte Interativo que diga-se de passagem, tem uma política de distribuição de valores muito mais justa. Semelhante da Premier League. Somente assim conseguiremos diminuir um pouco o abismo financeiro que existe entre os clubes.

    Ouvir/ler de um jornalista que falta ambição na Ponte Preta é como ler um livro de romance que coisas impossíveis acontecem e no final tudo acaba bem. Parece meio fantasioso pra não dizer ingênuo ne? Fazer futebol em clube do interior é muito mais complicado do que eu e você imagina eu acredito.

    Em contrapartida, concordo com você que idolatrar dirigentes é uma grande burrice (assim como qualquer tipo de idolatria) e tenho certeza que Eles cometem muitos erros. Assim como eu em minha profissão e você na sua ou qualquer um! Mas as intenções e a grande maioria das ações da direção muito me agrada. A Ponte Preta dos dias de hoje é maior dos 117 anos de historia. Apesar da torcida ter abandonado o time e apesar desse elenco atual não servir pra engraxar a chuteira dos times de 1977 a 1983. Essa é minha opinião!

    PS: Sou apenas um torcedor que frequenta o estádio desde 1998 e que NÃO CONHECE ABSOLUTAMENTE NINGUÉM QUE TRABALHA NA PONTE PRETA