Imprensa esportiva campineira: uma reflexão para entender porque tantos reclamam do nosso trabalho!

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Nesta semana o Só Dérbi publicou um artigo de minha autoria em que encaminhava um pedido de desculpas ao torcedor pontepretano pela falha na divulgação do julgamento a respeito da possibilidade da perda de mando de jogo.

Confesso meu espanto ao observar na área de comentários tanto do Facebook como também deste site as diversas reclamações sobre a qualidade do serviço que é prestado pelas mídias locais.

Eis que no período da noite vejo o comentarista Mauro Cézar Pereira, da ESPN Brasil, disparar contra a qualidade da cobertura na Copa do Mundo. Ruim e ufanista na sua avaliação. Entendi como preâmbulo para analisar o serviço oferecido pela mídia campineira. Não é caso para acusar A, B ou C. É colocar uma lupa geral. Entender por que nós, profissionais, que estamos na busca da notícia de Ponte Preta e Guarani somos sistematicamente colocados na berlinda. E reprovados pelo público alvo. Inclusive este Só Dérbi.

Para entender o motivo da resistência é preciso verificar as diversas escolas de jornalismo. No caso do esportivo, temos a predileção de buscar e seguir as tendências norte-americanas, especialmente das televisões abertas, em que o esporte é entretenimento puro e simples. Não há análise do trabalho do treinador, da performance dos jogadores ou da conjuntura que levou ao título ou ao fracasso. Existe, mas é superficial ao extremo. Quem quiser isso terá que buscar as televisões fechadas ou os jornais de qualidade.

O Brasil não seguiu a tendência de um jornalismo esportivo mais analítico e informativo, presente, por exemplo, em Portugal e em algumas publicações da França e Espanha. Ali, tudo é dissecado e acompanhado em detalhes.

Campinas vive um instante estranho. Estamos no meio do caminho. Sem para onde ir. Rádios, jornais e portais de internet necessitam do apoio financeiro dos patrocinadores para acompanhar os times e pagar as suas contas. Nada contra. Tudo a favor. Sem recursos financeiros dezenas de profissionais não teriam como sustentar suas famílias e as empresas não teriam seus nomes divulgados. Urgente e necessário.

Só que nos últimos anos, por descuido involuntário, o noticiário para os torcedores bugrinos e pontepretanos deixou em segundo plano a análise aprofundada. E isso engloba a dissecação tática das equipes, a pesquisa e acompanhamento dos bastidores, o acompanhamento dos oponentes, os conflitos políticos entre situação e oposição. Sim, é um tema espinhoso. Que pode fechar portas das fontes. Deixar com má vontade até potenciais investidores que admiram o trabalho de diretoria A ou B. Os dirigentes não gostam e as dificuldades aumentam. Mas é algo que precisa ser feito. Resumindo: estamos reféns de um noticiário pasteurizado em que treinamento escalação e resultados dos jogos faz parte do cardápio. Arroz com feijão. Sem tempero. Sem mistura ou sobremesa.

Resultado: por culpa exclusivamente nossa, em boa parte dos casos, temos uma nova geração de torcedores que não conhecem a história de Ponte Preta e Guarani, seus ídolos, trajetória e patrimônio. Falta formação. E isso não é feito com jornalismo brodagem ou boleirão.

É com busca de informação, aprimoramento profissional e determinação em buscar as raízes dos nossos clubes que o quadro pode mudar. Talvez esta é a principal lacuna deixada por Brasil de Oliveira, falecido em 10 de setembro de 1996. Brasa não era apenas um jornalista, mas um guardião da história do futebol campineiro. Ninguém ocupou tal vaga. As consequências negativas sentimos até os dias atuais.

As reclamações dos leitores têm fundamento. Este Só Dérbi e todos aqueles que desejam praticar um jornalismo de qualidade devemos aceitar com humildade e melhorar. Especialmente de quem critica com educação.  A vaidade, a ausência de senso crítico e formação jornalística não só é um empecilho para a formação de um bom profissional, mas  para a fiscalização sadia de um futebol responsável por glorias e produção de craques ao futebol brasileiro.

(análise feita Elias Aredes Junior)