João Brigatti, um genuíno pontepretano de corpo e alma, precisa aprender a conviver com as vozes discordantes

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Prometo que vou analisar com cuidado a permanência da Ponte Preta na Série B do Campeonato Brasileiro em outros artigos. A vitória por 3 a 0 sobre o CRB produz um alívio dificil de ser mensurado. Mas fica impossivel passar batida a  entrevista coletiva do técnico João Brigatti.

Primeiro, a compreensão. Entendo e compreendo o desabafo do treinador. É para ser solidário com o seu esgotamento mental pela pressão sofrida nos últimos 40 dias. A obrigação de deixar a Ponte Preta na Série B era uma tarefa hercúlea. Para poucos. João Brigatti provou que está neste patamar. Já salvou a Ponte Preta em diversas oportunidades. Conseguiu mais uma. Palmas. De pé.

Só que tal feito não autoriza João Brigatti e nem ninguém a tentar bloquear o debate da opinião pública. Seja no estádio, nas redes sociais ou qualquer outro espaço que o torcedor queira se manifestar. Um torcedor tem direito de se manifestar. Seja qual for a sua classe social e poder aquisitivo. Ponto. E se ele quiser se inserir na vida política do clube e manifestar a sua visão sobre os fatos, ele também tem esse direito. 

Quando João Brigatti, em um arroubo de sinceridade afirma que não é situação e nem oposição, ele esquece um detalhe fundamental: as atitudes nos colocam em posição política no cotidiano. Ora, se ele está vinculado ao clube, queira ou não, seus serviços estão sendo prestados não somente a um clube mas também a um dos polos ideológicos existentes. Fato.

Mais: a política só atrapalhou a Diretoria Executiva, a Comissão Técnica e os jogadores porque a campanha foi ruim. Péssima. Em anos anteriores, os 42 pontos conquistados seriam o passaporte de rebaixamento.

Então, quem está no staff pode até comemorar. Só que escondido dentro do quarto. De preferência em silêncio. O torcedor sim. Deve celebrar porque não ocorreu uma queda de patamar da Ponte Preta. Sem contar que, se hoje a Macaca estivesse na comemoração do acesso, certamente ninguém, nem Brigatti ou qualquer membro da Diretoria, falaria que a política atrapalha o clube.

Brigatti, todos os membros da Diretoria da Ponte Preta e da vida política da Alvinegra precisam entender o básico: a Ponte Preta é símbolo de democracia, que é traduzido em liberdade de expressão, circulação de ideias e voz para todos, todas e todes; homens, mulheres, brancos, pretos, índios, comunidade LGBTQI+…Todos são bem recebidos. E tem voz.

Quem não consegue conviver com as vozes dissonantes e barulhentas precisa aprender o que é e o que significa a Associação Atlética Ponte Preta. Simples assim.

(Elias Aredes Junior com foto de Marcos Ribolli-Pontepress)