Marcelo Lomba: como produzir um ídolo em 43 partidas e deixar saudades

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Toda vez que entra em campo, o arqueiro João Carlos tem uma sombra na Ponte Preta. Um opositor quase intransponível, autor de uma trajetória de  43 jogos e em uma única temporada. Por mais que o tempo passe, a torcida da Macaca não esquece o atual goleiro do Bahia, Marcelo Lomba. Para muitos, o melhor arqueiro da Macaca no Século 21.

Se você verificar o seu legado, não são números que chamem a atenção. Em 43 jogos foram 16 vitórias, 13 empates e 14 derrotas e com 47 gols sofridos. Ficou fora de um jogo, o final do Brasileirão contra o Sport (PE), na última rodada.

Convenhamos: um aproveitamento de 47,28% dos pontos disputados não é algo para arrancar suspiros. Mas o goleiro mexeu com o inconsciente coletivo, despertou sentimentos positivos em uma torcida ávida por reverenciar um ídolo de verdade, sem máscaras, hipocrisia e que demonstrasse profissionalismo e amor à camisa.

Marcelo Lomba precisou de um ano para cativar o torcedor. Grande parte deste feito aconteceu porque de modo indireto Lomba exibiu características de dois goleiros com passagem pela Macaca e que queiramos ou não fizeram história dentro e fora do campo: Carlos e Aranha.

Podia-se verificar em Marcelo Lomba a agilidade, a destreza e a capacidade de colocação exibidas por Aranha enquanto esteve no gol da Ponte Preta por 125 gols. As atuações de Lomba na casa do adversário foram fundamentais para exibir a oitava colocação entre os visitantes e com aproveitamento de 35,09% dos pontos disputados. Não é para qualquer um.

O torcedor apressado pode pensar o que Marcelo Lomba poderia apresentar de semelhante com Carlos Roberto Gallo, exponente do time vice-campeão paulista nos anos de 1977, 1979 e 1981.

A resposta é simples: discrição. Marcelo Lomba nunca quis colocar-se acima da Ponte Preta. Nunca deu entrevista com intenção de exibir liderança ou influência sobre o elenco. Com seus gestos e palavras suaves e comedidas, o arqueiro mostrava na prática respeito pelo clube, conhecimento do sofrimento do torcedor da Alvinegra e usava suas declarações não só para explicar porque o time ganhou ou perdeu mas para dar um alento e esperança de dias melhores, inevitavelmente calcado na realidade.

Exemplo? Veja esta declaração dada no final de setembro, quando a Macaca ainda nutria esperanças de classificar-se para a Copa Libertadores após o triunfo diante do Atlético-PR, por 2 a 1, no Majestoso. “A Ponte joga hoje o seu real futebol, com uma dose de confiança a mais. É isso que queremos manter até o final. Em casa, não tem que temer ninguém. Dentro do Majestoso, encaramos todos os adversários e jogamos para vencer sempre. O Corinthians vem numa sequência muito forte, tem grandes jogadores, mas no Majestoso a Ponte é muito forte. Pode ganhar, mas tem que respeitar, porque eles não são líderes a toa”, afirmou o goleiro na ocasião antes da partida com o Corinthians e que terminou empatada por 2 a 2.

Perceba: não existe ufanismo. O que verifica-se é um goleiro sensato, cordato, equilibrado, conhecedor do potencial da sua equipe, mas ciente das dificuldades. Sem disfarces. Verdadeiro.

É por sua postura fora de campo e por suas exibições de gala que Marcelo Lomba cativou o coração do torcedor da Ponte Preta. Para sempre. Com justiça.

(Análise feita por Elias Aredes Júnior)