No futebol campineiro, somos sementes da violência que condenamos

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No dia 05 de maio e 25 de agosto os comportamentos foram idênticos. Posts de torcedores, dirigentes, jogadores e jornalistas enfáticos na condenação de qualquer ato de violência no clássico entre Ponte Preta e Guarani. Torcidas organizadas condenadas por antecipação. Em um conceito simplista e tosco, os atos são associados a essas entidades que para o mundo do futebol só servem para emoldurarem o quadro desejado pelas emissoras de televisão.

Uma penumbra de engano e hipocrisia invade a opinião pública e ignora que somos as sementes da violência que condenamos entre bugrinos e pontepretanos.

A semente é plantada quando torcedores utilizam as redes sociais para destilarem ofensas contra uns e outros. Quando mulheres não podem circular com tranquilidade nos estádios porque são alvos de insultos e xingamentos inaceitáveis.

A violência é germinada quando você, leitor do Só Dérbi, esquece a racionalidade por alguns minutos e utiliza o tecla como arma na área de comentários dos posts feitos por esse portal.

A violência é prima irmã da ignorância. Para combater e derrotar o seu trunfo é a informação. E formação. Jornalistas têm a obrigação de saírem do trivial e entenderem que o futebol é relacionado com economia, sociologia, cidade, cultura, antropologia. É parte da identidade do Brasil. Alguns jornalistas, em nome do entretenimento banal transformam veículos de comunicação em canal de piadas sem graças ou informações vazias que nada esclarecem. Se isso não é a semente, certamente é o adubo, o material que auxilia na germinação do clima de ódio e ressentimento reinante entre os dois clubes.

O ano avança, jogos são realizados e a violência gratuita e sem sentido aprisiona os dois clubes em uma bolha de mediocridade. Bugrinos e pontepretanos, no fundo, não querem vencer ou triunfar. Muitos desejam, antes de tudo, machucar moralmente ou fisicamente quem ousar postar uma camisa diferente.

A paixão é irracional. Não permite reflexões. Não aceita conceitos. É vizinha do ódio. Seu combate não é com mais violência e sim com racionalidade, informação, cultura e interesse público. É difícil, duro, mas é um processo necessário.

Não podemos jogar a toalha. É possível batalhar e dialogar por uma rivalidade minimamente sadia e em que o respeito prevaleça. Em um país é terreno fértil para o ódio ao semelhante, temos a missão de abrir os olhos e parar jogarmos sementes para destruir em longo prazo uma rivalidade centenária.

(análise feita por Elias Aredes Junior)