No Guarani, goleiro não precisa demonstrar versatilidade na linha. Até quando?

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O técnico do Guarani, Ricardo Catalá, instigou um assunto interessante para debate após o empate sem gols contra o Brasil de Pelotas. Ao ser inquirido sobre o que esperava de Jefferson Paulino em relação a sua participação no jogo, sua resposta foi rápida e certeira. “Eu penso que o papel do goleiro é defender o alvo. Após isso, se ele tiver condições de participar do jogo na construção nos momento em que jogo exige, de maneira segura e confiável, pode e deve fazer. Porém, não há a necessidade de transferir para o goleiro a responsabilidade de fazer alvo que é dos atletas de linha: zagueiros, laterais, volantes, meias, enfim. O que nós pensamos é que o goleiro vai participar do jogo quando necessário, mas o papel dele dentro da equipe e no jogo é outro”, afirmou o técnico.

Meus companheiros de bancada no Brasil Esporte Clube concordam com o treinador. Eu respeitosamente vou por outro caminho. E aqui não vai o caso de depreciar A ou B. É de constatar os fatos.

As mudanças dentro do futebol são pequenas, pontuais e seguras. O que não é hegemônico em um dia vira unanimidade quando menos percebemos.

Exemplo: nas décadas de 1970 e 1980, o fato mais comum era uma equipe jogar com três atacantes. Fixo. Veio o Flamengo de Claudio Coutinho com sua rotatividade e mudou tudo. Na prática abriu espaço para o 4-4-2. Nas décadas de 1950 e 1960, era tabu o lateral avançar ao campo de ataque. Sua função era marcar. Só. Veio Nilton Santos e alterou o curso da história.

Ninguém acreditava que existia possibilidade de vencer com três volantes. Batista, Caçapava e Falcão demonstraram o contrário no Internacional. Tudo Muda. Mesmo em ambientes conservadores como os do futebol.

Concordo que temos uma minoria de goleiros que sabem dominar uma bola e armar uma jogada. São poucos.

Perceba, no entanto, a evolução da marcação sob pressão. As equipes mais poderosas do planeta, como Liverpool, Manchester City e Bayern de Munique marcam de modo implacável na saída de bola.

Cercam.

Sufocam. Até os zagueiros. E se sobrar para o goleiro? Se ele não tiver domínio de bola, dará esta de presente ao oponente e o gol sai para o adversário. Equipes brasileiras ensaiam aqui e ali a marcação sob pressão e o constrangimento aos zagueiros. E se o goleiro for limitado? O que fazer? Na Série B, o histórico goleiro Victor entrou durante a derrota do Atlético Mineiro para o Santos. Em determinado instante, a equipe de Cuca sufocou na saída de bola. Os zagueiros se viam cercados. E o goleiro do Galo não sabia o que fazer. Não é questão de gostar ou não. É a nova realidade. Ou nos adaptamos ou seremos sugados. Fato.

Diante disso, quem assegura, de bate pronto, que tal fenômeno não vai se espalhar no futebol brasileiro, até em suas divisões inferiores? Ou esquecemos que Fernando Diniz começou a fazer fama com o Audax, cuja participação do goleiro é essencial?

Evidente que um goleiro eficiente vai precisar pegar debaixo dos três paus. Mas não podemos fechar os olhos que as exigências para cada posição crescem a cada dia. O que serve hoje já não terá validade amanhã. Outro exemplo: camisa 10 não tinha obrigação de marcar. E hoje? Quem aceita o camarada que sequer cerca a saída de bola? Inevitável que o goleiro sobre um processo de modernização. E que deverá ser assimilado pelos preparadores.

Respeito Ricardo Catalá e sua posição. Mas acredite: no futuro até um cara qualificado como ele terá que alterar sua posição. O novo sempre vem.

(Análise de Elias Aredes Junior)