Nunca existiu uma campanha tão polêmica como a da Ponte Preta no Campeonato Paulista. Os sete pontos ganhos e a a boa posição no grupo D provocaram uma cizânia nas arquibancadas e na imprensa. Existe um grupo disposto a dar uma aliviada para o técnico Felipe Moreira. Consideram que é início de trabalho, há possibilidade de evolução e que queimar o trabalho nesta altura do ano não trará nada de positivo.
Nas redes sociais este grupo é bélico e sem limites. Tenta até intimidar um grupo numeroso, do que este colunista faz concorda com as premissas. São aqueles que consideram o treinador imaturo para um cargo de tamanha envergadura, não vislumbra melhoria prática, jogadas ensaiadas, posicionamento adequado dos jogadores e força ofensiva explorada de modo adequado.
A réplica carrega adjetivos como luta, determinação, garra, integração dos jogadores com o treinador e aposta feita pela diretoria e a presença de João Brigatti como auxiliar técnico. Vale tudo para preservar a figura de Felipe Moreira. Inclusive repatriar Fernando Bob, buscar Renato Cajá (fracasso contabilizado) e reforços para lhe fornecer condições de trabalho.
Luta inglória quando os opositores do trabalho da atual comissão técnica da Ponte Preta relembram como Fábio Ferreira e Kadu enterraram o time na goleada contra o São Paulo. Ou quando relembramos a estratégia de transformar a Macaca em uma equipe de Futebol Americano no Soccer, devido a ligação direta feita com os zagueiros e agora com Fernando Bob.
O volante tem qualidade no passe ? Ninguém pode recusar tal atributo. Só que contar com lançamentos e erros bizarros dos oponentes para vencer é quase nada para quem sonhar em disputar as finais do Paulistão, Sul-Americana ou Copa do Brasil e fazer história no Brasileirão. Futebol pobre, previsível, sem nexo, com começo fraco, meio capenga e final mambembe.
Tal divisão não trouxe polêmica e divisões como frutos únicos. Existe um aspecto positivo. Bem ou mal, os conceitos de Felipe Moreira suscitaram um debate intenso na torcida da Ponte Preta. Discussão sobre conceitos de futebol, desdobramentos e possibilidades. Ninguém está alheio.
Torcedores vão ao campo hoje não apenas como fanáticos em busca do resultado a qualquer preço e sim imbuídos do seu espírito de analista. Assistem aos jogos não só para transmitir pensamentos positivos, mas para encontrar aspectos que reforcem a sua crença a favor ou contra Felipe Moreira. Antecessores no cargo e que fracassaram, Sidney Moraes e Alexandre Gallo nem de longe produziram tamanha mobilização.
Independente dos resultados a serem apurados por Felipe Moreira, o futuro poderá produzir um torcedor mais atento. Crítico ao trabalho dos treinadores e diretores de futebol. Capaz de fomentar dentro da mente de cada amigo de arquibancada qual tipo de futebol sonha para a Ponte Preta. Um torcedor comum, seja de arquibancada ou sofá, que não vai engolir a primeira desculpa enumerada por Sérgio Carnielli ou Vanderlei Pereira. Ou pelo gerente de futebol de plantão. Não é algo novo. Nos tempos áureos, o torcedor pontepretano era militante e consciente. Tanto que Otacílio Pires de Camargo, o Cilinho, tinha apoiadores fanáticos, os Cilinistas.
Sem querer, Felipe Moreira marcou um gol de placa: despertou a cidadania futebolística outrora apagada no estádio Moisés Lucarelli. Acredite: um povo sedento por informação e formação é o passo inicial para uma revolução.
(análise feita por Elias Aredes Junior)