O silêncio de Sérgio Carnielli mata aos poucos a esperança do torcedor pontepretano

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A Ponte Preta está com 20 pontos e encontra-se na zona intermediária da classificação do Campeonato Brasileiro. Trouxe satisfação ao seu torcedor após vencer o São Paulo no Majestoso e acumular seu segundo triunfo diante de um gigante brasileiro. A boa fase é inegável, o trabalho de Eduardo Baptista é satisfatório e alguns jogadores produzem acima do esperado. Incrível que mesmo neste clima amigável e de camaradagem, um fato chama atenção e que já foi abordado neste espaço: o silêncio barulhento dos principais dirigentes.

Independente do tempo e do espaço, alguns costumes são perenes no futebol. Um deles é que dirigentes apareçam nos meios de comunicação e nas redes sociais para faturar. Alexandre Kalil comportava-se assim no Atlético Mineiro; Juvenal Juvêncio deu entrevistas antológicas no São Paulo quando a maré estava a favor; investidor no passado e oposicionista no presente, Celso Barros era a voz e vez do Fluminense. Não consigo entender o sumiço do presidente Vanderlei Pereira. Ok, você pode lançar o argumento de que ele não gosta de entrevistas. Mas e o presidente de honra Sérgio Carnielli? O que acontece? Por que exibe aparência de encontrar-se distante da torcida e do clube?

Entendam que minha tese não vai no sentido de cobrança e sim de reflexão. Senão vejamos: Carnielli tirou a Ponte Preta do fundo do poço. Desde 1997, pagou dívidas, a agremiação reestabeleceu sua dignidade e nos primeiros anos, ao lado do então diretor de futebol e depois vice-presidente Marco Antonio Eberlim conseguiu fazer o pontepretano sonhar com a conquista do titulo, especialmente em 2001, quando chegou as semifinais da Copa do Brasil.

Posteriormente, anos depois, já sem Eberlim, chegou a decisão do Paulistão, obteve o acesso na Série B de 2011, disputou semifinal de Paulistão com o principal rival em 2012 e viu a Ponte Preta ficar a um passo de chegar a conquista da Copa Sul-Americana. Convive com as criticas de que nunca deixou Márcio Della Volpe trabalhar com autonomia, mas é fato que os resultados foram obtidos pelo grupo político que está sob seu comando. Fato.

Hoje repara-se a existência de um presidente de honra apático e sem disposição para defender o seu legado e sua história. Por que não adianta terceirizar algumas tarefas. Elas tem que ser executadas pelas própria pessoas. E Sérgio Carnielli assiste de camarote o seu legado ser esquecido e destruído por um ressentimento presente nas arquibancadas.

Um sentimento totalmente compreensível, diga-se de passagem. O torcedor pontepretano cansou de ser coadjuvante eterno. Quer uma luz, uma explicação ou um planejamento em relação a metas mais ambiciosas. Se não for no Brasileirão, que seja no Paulistão, Sul-Americana ou Copa do Brasil.

O dinheiro pago pela televisão é curto? Sim, com certeza. A disparidade de renda é pornográfica. Mas quais as alternativas para crescer tal patamar financeiro? Qual o prazo para que a Ponte Preta esteja no patamar técnico e financeiro de um Atlético Paranaense? Empresário de sucesso e renomado como é Carnielli sabe que o crescimento e a melhoria em qualquer área de atuação não acontece do dia para noite. Talvez este seja o problema: a torcida pontepretana quer uma palavra, uma perspectiva, um horizonte. E em troca recebe o silêncio.

Apesar de ser louvável sua predileção em delegar poderes e buscar formar novos dirigentes, Carnielli deveria entender que o Brasil, em todas as suas áreas(futebol, religião, política, economia), é um país de predominância personalista. Infelizmente. Mais do que a ação de grupos, o que as pessoas querem e desejam é que os comandantes falem e determinem os horizontes.

Está afastado da justiça? É verdade. Mas as ideias, os conceitos, a orientação e o rumo são determinados por Carnielli. E o futebol brasileiro passa por um momento em que os dirigentes são vendedores de esperança e não apenas gestores de recursos.

Sem perceber, com seu silêncio, Carnielli cria a cada dia uma torcida, ressentida e magoada e que se sente abandonada em seu sonho por aquele que um dia foi seu redentor. Carnielli deveria aproveitar a fase de águas tranquilas e oferecer uma palavra de futuro e de esperança. Afinal de contas, no futebol o passado serve apenas como relato daquilo que já deu certo. O presente pede mudanças, reciclagem e busca de mais e melhor. Antes que sobre apenas o passado para celebrar.

(análise feita por Elias Aredes Junior)

1 Comentário

  1. Excelente texto, particularmente, é exatamente o meu sentimento de hoje. A falta de perspectiva é ainda pior do que “simples” maus resultados. Por onde olhamos não vemos saída, torcida se afastando, falta de ambição, falta de títulos, falta de revelações…Depois disso tudo, ter que engolir goela abaixo a diretoria questionando a lealdade e fanatismo da própria torcida.

    Morra como herói, ou viva o bastante para se tornar vilão, adeus Carnielli, renovação já!