Doutor em Geografia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro e professor no Instituto Benjamin Constant, Fernando da Costa Ferreira tem participação no livro “O Futebol nas Ciências Humanas no Brasil”, organizado por Sérgio Settani Giglio e Marcelo Weishaupt Proni e publicado pela editora Unicamp.
Sua dissertação sobre o histórico e a formação da coqueluche das arenas é exemplar. Deveria ser lido por todo e qualquer dirigente com pretensão de construir tal equipamento. Inclusive cartolas bugrinos e pontepretanos.
Além da sua conceituação do torcedor consumidor, o texto que começa na página 508 da obra tem prestação serviço fundamental: a de comprovar por A mais B que além do aspecto econômico, as atuais arenas brasileiras são um exemplo acabado de apartheid social.
Na parte de suas conclusões, ele disse: “(…) No estádio arenizado do Século XXI, da mesma forma que percebemos nas áreas desejadas para a expansão do capital imobiliário, há uma clara pretensão de limpar esses ambientes de grupos compreendidos como cultural e/ou economicamente indesejáveis. O projeto de renovação desses espaços consiste em substituir o frequentador tradicional por uma clientela pertencente às classes médias, média-alta e alta (…)”. Mais claro, impossível.
Um especialista e estudioso do assunto levanta uma bola há tempos enfatizado por esse Só Dérbi: Ponte Preta e Guarani, na construção das novas arenas terão zelo e cuidado com o torcedor de baixa renda? Ele terá espaço? Será tratado decentemente?
Tais questionamentos são urgentes se pensarmos o que está ao nosso redor. Um país com 14 milhões de desempregados e que a renda mensal mensal dos trabalhadores economicamente ativos caiu 20,1.
Traduzindo: a média salarial caiu de 1.118 para R$893. Dificilmente esse torcedor pobre terá condições de adquirir tv por assinatura e quando retornar o público aos estádios, com novas arenas, não terá chance de adquirir ingressos. Ele terá espaço? Terá vez?
Ponte Preta e Guarani são clubes fortes do interior paulista. Tem milhares de adeptos. Mas infelizmente não tem o tamanho de gigantes do Rio de Janeiro ou São Paulo. E nem o tamanho do Ceará, Sport e outros com mais de um milhão de torcedores. Ou seja, o contingente de torcedores das classes A ou B não é tão grande como se imagina. Vale a pena descartar esse torcedor mais carente? Ou pode-se estudar um novo modelo que contemple conforto, segurança e presença de torcedores de todas as classes sociais nas arquibancadas? A bola está com os gabinetes. Tomara que não marquem gol contra.
(Elias Aredes Junior)