Oposição na Ponte Preta: sem formação, ideias claras e esperança não há como prosperar. O fracasso virá!

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Assunto velho. Requentado. Repetido. Necessário. A Ponte Preta vive um instante interessante em sua história. A torcida ama seu treinador, começa a conceder um voto de confiança aos jogadores e tem a meta de arrebanhar as arquibancadas na reta final da Série B do Brasileirão.

Dentro do campo, ótimo. Fora dele, por maior que seja o esforço do presidente José Armando Abdalla, a resistência a sua diretoria e a Sérgio Carnielli é alta. Muitos nem querem ouvir falar do nome do presidente de honra. Tal quadro deveria ser o caminho para a redenção da oposição, correto? Errado. Não existe empolgação, não existe a produção de esperança. Não é com autoritarismo ou flertar com a violência inconsequente que se muda uma cidade, estado ou país. É com esperança, ideias e nomes.

Concordo que o grupo “Tudo pela Ponte, Nada da Ponte” é um oásis no deserto. Pode ser um laboratório de ideias criativas para tirar o clube do marasmo. Forçar a Ponte Preta novamente a pronunciar o Nós ao invés do Eu. Só este grupo político, no entanto, é pouco.

Os oposicionistas podem argumentar (com razão!) que o colégio eleitoral impõe dificuldades para viabilizar diversidade, os presidentes do Conselho Deliberativo tem má vontade. Tudo isso é real.

O que eu falo é do torcedor comum, daquele que paga ingresso com seu dinheiro suado. Esse que não está acostumado com os gabinetes, com as medidas equivocadas. Ele só quer saber da bola entrar. Só interessa a ele a vitória. Pois é esse torcedor que precisa ser conquistado. É esse que precisa ser incutido na sua mente uma ideia, um conceito que não faça somente aparecer no Majestoso, mas encher o coro por mudanças. Pois é. Ele não está integrado ao processo.

Dou exemplo histórico. Nos diversos mandatos como presidente do Corinthians, Vicente Matheus enfrentou a fúria da torcida. Protestos fortes e que invadiam todos os setores dos estádios. Em uma destes instantes, Valdemar Pires encheu-se de coragem, rompeu com o caudilho e fez a Democracia Corintiana. No Palmeiras, a rejeição contra Mustafá Contursi foi tamanha que hoje ele age prefere agir nos bastidores. A torcida organizada e os torcedores comuns protestaram, chiaram e conseguiram tirá-lo da linha de frente. Roberto Dinamite só virou realidade política no Vasco da Gama porque no início do Século 21 ninguém suportava ouvir o nome de Eurico Miranda. E isso incluía torcida organizada, sócios e torcedores comuns.

E Carnielli? E os componentes da atual diretoria? Quantas vezes, de modo uníssono, o estádio Moisés Lucarelli protestou e gritou contra eles? Eu digo vaia, palavras de ordem e de maneira forte, que não pudesse ser filtrada por emissoras de rádio e televisão. Respondo: Pouquíssimas vezes. Na mente do torcedor comum, do torcedor que não vive o dia a dia da agremiação é preferível um Sérgio Carnielli, que erra, se equivoca mas mantém um time competitivo, do que entregar o clube para uma oposição para pontepretanos autênticos, mas que hoje não demonstraram de maneira cabal o que querem e pretendem.

Aquele que se informa pelos programas de rádio, televisão e internet não sabe dizer de bate pronto o que pode acontecer se Sérgio Carnielli sair.

Quem está na oposição precisa investir  na formação. Informação. Dizer o que vai fazer, como fazer e de que modo fazer. De onde virá o dinheiro e como a divida com Carnielli será paga. Ou será feita uma auditoria da dívida. Pegar todo esse caldeirão e resumir tudo em uma frase, um slogan, uma ideia que contagie aos poucos e faça o torcedor comum pensar. Sim, tentaram na última eleição. Mas não pegou. Fato. Sem contar que não existe um nome capaz de galvanizar e aglutinar a esperança de renovação. Tudo é pulverizado. Muitos querem ir a frente, mas ninguém toma o leme.

Não existe na face da terra nenhum grupo oposicionista que tomou o poder sem esses três ingredientes e todos em longo prazo: formação, propaganda massiva e contato direto com o torcedor.

O que vimos nos últimos anos? A oposição aparece a poucos dias da eleição, registra a chapa, faz  barulho, a situação ganha, recebe-se o conforto de apoio das arquibancadas e fica por isso mesmo. Só que estas mesmas arquibancadas meses depois refletem e passam a apoiar Carnielli. Melhor um pássaro na mão do que dois voando.

Não existe mudança sem sacrifício. Não existe mudança de rumo sem colocar a cara para bater. Se quiserem alterar os rumos da história da Ponte Preta, os oposicionistas terão que sujar sapatos nos próximos anos. Distribuir panfletos, comunicados e textos que mostrem suas ideias. Realizar eventos para explicar e detalhar aos torcedores o que desejam.

Caso contrário, teremos pessoas bem intencionadas, mas sem efeito prático nenhum. Pior: que não empolgam e sequer transmitem esperança. É preciso mudar. Para que os frutos serem colhidos em longo prazo.

(análise feita por Elias Aredes Junior)