Pesquisa de torcidas e uma demanda: quando a maturidade chegará para torcedores pontepretanos e bugrinos?

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Estive fora o dia inteiro e só acompanhei as atualizações das redes sociais pelo celular. Verifiquei a controvérsia gerada por uma pesquisa que constata que 20% da cidade de Campinas torce para a Ponte Preta enquanto o Guarani tem 3%. Brigas, discussões, acusações contra quem postou a matéria (não escapei da onda de ódio) foram algumas reações coletadas nos poucos momentos que acompanhei com atenção. Todo este espiral de ódio se levou a uma conclusão: seja pontepretano ou bugrino, Campinas é certamente a cidade com os torcedores mais infantis e imaturos do país.

Vamos aos fatos. Primeiro colocam em xeque a credibilidade da pesquisa porque é bancada pela Brasil Kirin, patrocinadora da Ponte Preta. No mundo imaginário e distorcido dos torcedores, a empresa manipulou os números para desfavorecer o Guarani. Bem, tal absurdo é dito em um município com duas universidades de altissimo porte como Unicamp e Puc-Campinas e outras que devem ser elogiadas, como a Unip. E nesses locais, qualquer aluno de publicidade ou de economia sabe que grandes multinacionais realizam periódicas pesquisas para saber o gosto local do mercado em que deseja entrar e com base nisto direciona seus investimentos. Sério que você considera factível uma empresa manipular números que no final podem trazer prejuízo para ela mesma? Lógico, porque se a análise é errada, a colheita é errada.

Outra crítica é quanto a amostragem, de 800 entrevistas. Antigamente, eu caia em tal armadilha até que ouvi um presidente de um grande instituto de pesquisa realizar uma analogia perfeita: se eu faço um exame de sangue não preciso tirar todo o sangue da pessoa para saber se ela está com anemia. Basta tirar uma amostra e pronto. Bem, nem preciso dizer a relação disso com qualquer pesquisa de campo.

Bem, mas se isso não bastasse, tanto pontepretanos como bugrinos demonstraram em suas reações uma imaturidade e infantilidade que em parte responde o motivo de Campinas ter deixado de ser a capital do futebol a partir de 1982.

No lado pontepretano todos comemoram o índice de 20% e o massacre sobre o rival. É para comemorar?Sim, mas ao mesmo tempo deveria ser motivo de total lamentação pela perda de mercado. Ora, se 20% de Campinas é pontepretana é porque 80% nem quer ouvir falar. Isso deveria ser motivo de raiva e não de celebração. Provas? Simples: Em Porto Alegre, segundo a última pesquisa do Ibope, o Internacional tem 40% da preferência enquanto que o Grêmio vem com 39,6%. Ou seja, disputa acirrada, cabeça a cabeça. E que não dá espaço para clubes de outros estados. Em Minas Gerais, o Galo mineiro tem 31,6% da preferência enquanto que o Cruzeiro está com 27,4%. Ou seja, não há espaço alargado para os rivais de outros estados.

Se pensarmos bem, o índice do Corinthians, de 22%, deveria servir de vergonha tanto para pontepretanos como para bugrinos. O Corinthians deita e rola em um mercado que deveria ou ser dividido pelos clubes locais ou servir de expansão para quem está em divisão superior. Pergunta: comemoração infinita para que? Deveria ficar contente mas pensar em estratégias para ampliar. Mas infelizmente o provincianismo e por vezes até uma certa visão limitada dos fatos impede que pontepretanos vislumbrem algo tão óbvio.

Daí temos a onda de fúria bugrina. Ninguém se conforma com os 3%. Acham pouco. Seriam aproximadamente 40 mil torcedores, no máximo. A reação, no fundo, no fundo, é a mesma dos últimos anos: procurar um culpado ao invés de calçar as sandálias da humildade e buscar a retomada de crescimento.

Ok, digamos que não seja 3% e sim 10% ou 15%. Ou até empatado com a Ponte Preta. Seja sincero contigo mesmo torcedor bugrino: a equipe fez para merecer tal índice de torcedores nos últimos 16 anos? Jura que nenhum pai bugrino teve dificuldade para levar o seu time ao estádio diante dos seguidos rebaixamentos e desmandos administrativos? E ae você acha que a solução é culpar a pesquisa? Quem é beneficiado com isso? Quem lucra com tal nível de alienação? O Guarani não é.

Mais: dizer que a imprensa é marrom ou tendenciosa é uma bela maneira de disfarçar aquilo que está a vista de todos: nos últimos 16 anos, o Guarani ficou cercado de incompetentes, dirigentes ineficientes e você em uma mistura de alienação e carência preferiu apostar que tudo não passava de um pesadelo. Que um dia seria acordado. O tempo passou, os dirigentes passaram e você insiste em negar a realidade. Pergunta: o que o Guarani ganha com isso. Eu respondo: ganha um atraso monumental em sua reconstrução.

O que de certa forma também prejudica a Ponte Preta. Os principais instantes de glória de um ou de outro tiveram a presença do antagonista.

Mas estamos em 2016, o futebol virou uma máquina de entretenimento e torcedores das duas equipes portam-se não como consumidores de entretenimento ávidos em querer uma melhoria de produto e sim como dois garotos que jogam uma pelada na rua e querem brigar para quem a garota bonita do bairro.

Torcedor pontepretano: não fique inebriado pelo elixir do sucesso. Existe muita coisa para conquistar e que está na mão de outros. Bugrino: tome consciência, vá até ao espelho e encare a realidade de frente. Antes que seja tarde. Para os dois. Porque queiramos ou não, o pontepretano pensa no bugrino e vice versa. Mas passou de pensarem e exercerem a rivalidade de maneira mais madura.

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